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Corte nas pensões de sobrevivência é "um pecado que brada ao céu"

07 out, 2013 • Olímpia Mairos

Bispo de Vila Real, D. Amândio Tomás, lembra que a medida afecta os mais desprotegidos, defendendo que o Governo devia agir "sobre as grandes fortunas" e "pessoas que podem prescindir de um ordenado mais chorudo".

O Bispo de Vila Real, D. Amândio Tomás, mostra-se indignado com o anunciado corte nas pensões de sobrevivência.

D. Amândio Tomás considera que a medida vai atingir muitos idosos, sobretudo os mais pobres da diocese, e defende que sejam os mais ricos a pagar a crise.

“É uma ingratidão, uma injustiça e é um pecado que brada ao Céu. Devíamos pensar neles. E, se eles já não têm o suficiente para azeite e para outras coisas, não lhes vamos retirar o pouco que têm”, disse à Renascença.

O prelado aponta outro caminho: “Vamos sobre as grandes fortunas, pessoas que têm algumas possibilidades, que podem prescindir de um ordenado mais chorudo e, portanto, ter atenção aos pobres”.

D. Amândio Tomás considera que esta e outras medidas promovem indiferença. “Caímos naquilo que o Papa denunciou em Lampedusa, que também é extensivo a nós e a todo o mundo ocidental, egoísta e materialista, que é a globalização da indiferença. Os pobres são pobres e ficam, muitas vezes, mais pobres”.

O Bispo de Vila Real alerta que “o abismo, o fosso entre ricos e pobres estende-se em todo o Portugal”.

“Que uma época de crise exige medidas extraordinárias, é compreensível, porque se devemos e temos de reequilibrar as contas, temos de pagar e estamos condicionados por isso. Mas desejaria que fossem aqueles que mais podem a pagar um pouco mais a crise, a cotizarem-se”, sublinha.

O Bispo admite serem precisos sacrifícios, mas pedi-los aos que "vivem abaixo do nível das suas possibilidades, que já recebem uma miséria, é muito triste”.

O corte nas pensões de sobrevivência e viuvez avança no próximo ano e deve ser aplicado a quem acumula mais de 600 euros por mês, entre esta pensão e a reforma. Uma medida, que segundo D. Amândio Tomás, vai atingir muitos idosos da diocese de Vila Real, alguns dos quais vivem já no limiar da pobreza.