Emissão Renascença | Ouvir Online

“Não basta ler as escrituras, é preciso escutar Jesus”

04 out, 2013 • Filipe d’Avillez

Francisco deixa vários recados: aos padres e pais pede para que meditem na palavra de Deus, sob pena de as homilias serem aborrecidas e de os pais não saberem comunicar com os filhos;  Aos casais lembra que é importante pedir perdão e saber perdoar.

“Não basta ler as escrituras, é preciso escutar Jesus”
O Papa realçou esta tarde que não basta aos cristãos lerem os Evangelhos, é preciso saber escutar Jesus que fala através delas. Num encontro com membros do clero, da vida consagrada e pessoas empenhadas na vida pastoral, como por exemplo catequistas,  Francisco deixou recomendações para melhor cumprir a missão da Igreja.

Falando directamente aos sacerdotes, exige que estes se ancorem mais firmemente na Bíblia: “Penso nos padres, que têm obrigação de pregar. Como se pode pregar a palavra se antes não a tiver escutado, no silêncio, no coração? Dirá homilias intermináveis, aborrecidas, das quais não se percebe nada!”

Também os pais, “primeiros educadores”, o Papa recomenda uma maior atenção da palavra de Deus nas suas vidas: “Como podem educar se a sua consciência não estiver iluminada pela palavra de Deus? Se o seu modo de pensar e de agir não for guiado pela palavra, que exemplo podem dar aos filhos?”

Por fim o Papa falou aos catequistas, poucos dias depois de ter recebido milhares de numa audiência depois do Congresso Internacional dos Catequistas, em Roma: “E penso nos catequistas, em todos os educadores: se o vosso coração não for aquecido pela Palavra, como podem aquecer os corações dos outros, dos bebés, dos jovens e dos adultos?”

Mas a todos avisou também que não basta ler a Palavra apenas com os olhos: “Não basta ler a sagrada escritura, é preciso escutar Jesus que fala através dela.”

Falando da necessidade de evangelizar, o Papa voltou à questão das “periferias existenciais”, um tema em que tem insistido desde a sua eleição. “Quais são as vossas periferias?”, perguntou.

“São as zonas da diocese que continuam a estar à margem”, explicou. “Mas são também pessoas, realidades humanas de facto marginalizadas, desprezadas. São pessoas que talvez se encontrem fisicamente perto do ‘centro’, mas que espiritualmente estão longe”.

Precisamente para poder chegar a todas estas periferias, o Papa pede aos fiéis que não tenham medo: “Não tenham medo de sair, de ir ao encontro destas pessoas e destas situações. Não vos deixeis bloquear por preconceitos, hábitos, rigidez mental ou pastoral, pelo ‘sempre se fez assim’”.

“Só se pode ir às periferias se se leva a Palavra de Deus no coração e se caminha com a Igreja, como São Francisco. Senão, só nos levamos a nós e isso não é bom, não serve a ninguém! Não somo nós a salvar: é o Senhor!”

Francisco deixou também alguns conselhos aos jovens, sobretudo aos jovens casais: "Reconhecer os erros e pedir perdão, mas também, aceitar as desculpas dos outros, perdoando. As vezes penso nos casais que, depois de tantos anos, se se separam: 'Não nos entendemos… afastámo-nos…'. Talvez não tenham sabido pedir desculpa a tempo, perdoar a tempo! Eu digo sempre aos jovens casais, dou-lhes este conselho: Discutam o que quiserem, se voarem pratos, não faz mal, mas nunca terminem o dia sem fazer a paz!"

O Papa interrompeu várias vezes o seu discurso escrito, improvisando. Numa ocasião foi para realçar a importância dos conselhos pastorais para as dioceses e para as paróquias, noutra perguntou aos presentes quantos deles sabiam a data do seu baptismo, deixando como “trabalhos de casa” a missão de se informarem.

Num outro desvio do texto escrito o Papa repetiu a ideia, já expressa em entrevistas, de que não é o "proselitismo" que faz crescer a Igreja, mas sim o poder de atracção que ela exerce, quando os fiéis vivem plenamente como cristãos.

A visita a Assis começou esta manhã e já incluiu uma visita a um hospital de deficientes, que o deixou visivelmente emocionado. Houve ainda um encontro com os pobres, com quem mais tarde almoçou, e uma missa campal.

O programa do Papa segue agora com uma visita às freiras de clausura, seguindo-se um encontro com os jovens e, para finalizar, uma visita à “porziuncula”, uma cabana onde São Francisco morou, à volta da qual se construiu uma igreja.

[Notícia actualizada às 16h12]