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“A paz de Cristo não é um sentimento piegas”

04 out, 2013 • Filipe d’Avillez

Na sua visita ao santuário franciscano de Assis o Papa apelou ao respeito pela criação, e voltou a clamar pelo fim dos conflitos armados no mundo.  

O Papa Francisco aproveitou a homilia da missa campal que celebrou, esta sexta-feira, em Assis para apelar à paz, fazendo também questão de explicar de que conceito de paz deve falar um cristão.

Segundo o Papa, São Francisco ensina-nos que “quem segue a Cristo recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar. Na ideia de muitos, São Francisco aparece associado com a paz, e está certo, mas poucos vão em profundidade".

"Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu, e que nos transmite?", questionou o Sumo Pontífice, apontando, de seguida, a resposta: "A paz de Cristo, que passou através do maior amor, o da Cruz.”

“A paz franciscana não é um sentimento piegas. Por favor, este São Francisco não existe!”, advertiu o Papa, acrescentando que "também não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos”, sendo, então interrompido por uma salva de palmas da multidão presente na praça.

“Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo e encontra-a quem ‘toma sobre si’ o seu ‘jugo’, isto é, o seu mandamento: 'Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei'. E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração", adiantou.

Segundo o Papa, que nesta homilia, e pela primeira vez nesta sexta-feira, leu o texto que estava preparado para o efeito, o segredo de São Francisco foi deixar-se olhar por Cristo na Cruz. Francisco referia-se, especificamente, à cruz de São Damião, à frente da qual o santo rezava quando ouviu Deus a pedir-lhe que fosse “restaurar a sua Igreja”.

Chamando a atenção para o facto de, naquela representação, Cristo estar de olhos abertos, o Papa convidou os fiéis a “deixar-se olhar por Ele no momento em que dá a vida por nós e nos atrai para Ele”.

“Jesus não tem os olhos fechados, mas abertos, bem abertos: um olhar que fala ao coração. E o Crucifixo não nos fala de derrota, de fracasso. Paradoxalmente, fala-nos de uma morte que é vida, que gera vida, porque nos fala de amor, porque é o Amor de Deus encarnado, e o Amor não morre, antes derrota o mal e a morte.”

Na linha do que tem dito desde que foi eleito, Francisco insistiu que a primeira coisa que o Santo do seu nome nos ensina é que o Cristianismo, mais que uma série de rituais, é uma religião de relação: “A primeira coisa, a realidade fundamental de que nos dá testemunho é esta: ser cristão é uma relação vital com a Pessoa de Jesus, é revestir-se d’Ele, é assimilação a Ele.”

Recordando que os franciscanos são também associados ao amor pelos animais e pela criação, o Papa disse ainda: “Respeitemos a criação, não sejamos instrumentos de destruição!"
 
Mas o Papa, no único momento de improviso em toda a homilia, deixou claro que a sua visão ecologista não é relativista, ao dizer que Deus criou o homem para ser o centro da sua criação.

Francisco pediu, ainda, pela paz no mundo e o fim das guerras. "Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas e que, por toda a parte, o ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da guerra na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, em todo o Médio Oriente, no mundo.”

A manhã em Assis esteve muito encoberta, mas nunca chegou a chover.

O Papa estava acompanhado, nesta visita, pelos oito cardeais com quem se tem reunido ao longo dos últimos dias, no Vaticano, que estão encarregados de o aconselhar sobre as reformas a fazer à administração da Santa Sé.