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Síria

Líder sunita pró-Assad quer ir a Roma para vigília pela paz

03 set, 2013 • Filipe d'Avillez

Em 2011, o mufti Ahmad Badreddin Hassoun avisou os países ocidentais de que qualquer ataque à Síria conduziria a atentados suicidas na Europa e na América.

Líder sunita pró-Assad quer ir a Roma para vigília pela paz
O grão-mufti sunita da Síria, Ahmad Badreddin Hassoun, acolheu com grande entusiasmo o apelo por uma vigília de jejum e oração pela paz e já manifestou a intenção de marcar presença em Roma para poder participar, no próximo sábado.

Numa altura em que aumenta a probabilidade de um ataque à Síria por parte dos Estados Unidos, com o apoio pelo menos de França, Ahmad Hassoun desdobra-se em elogios ao Papa Francisco, que tem feito apelos repetidos pela paz.

“Todas as pessoas aqui estão conscientes de que Francisco é como um pai que quer cuidar do futuro do povo sírio e que quer proteger esta sociedade, nas suas mais variadas formas, para que ela não seja destruída por radicalismos ou divisões religiosas”, afirma o líder.

Enquanto grão-mufti dos sunitas na Síria, Ahmad Hassoun seria supostamente o líder de todos os sunitas daquele país. Contudo, o seu posto é de nomeação política e Hassoun tem sido firme no apoio a Assad e ao seu regime desde o início do conflito na Síria. Mas a oposição ao regime é composto por membros da comunidade sunita.

A população da Síria é composta por várias etnias e religiões. A família Assad, bem como as principais figuras do Estado, são da seita alauita, um ramo do Islão xiita. Os alauitas são cerca de 10% da população total.

Outros 10% são cristãos, de diversas confissões, que na sua maioria têm estado do lado do regime, temendo o aumento do islamismo radical caso os sunitas tomem o poder. Já os sunitas formam a maioria da população, cerca de 75% e compõem a quase totalidade da oposição que tem combatido o regime.

Resta ainda a comunidade drusa, de cerca de 5%, que tem evitado comprometer-se tanto de um lado como do outro, e os curdos que sendo sunitas são de uma etnia diferente e durante a guerra civil têm-se preocupado mais em ir aumentando a sua própria autonomia, combatendo, quando necessário, tanto as forças governamentais como os rebeldes.

Neste contexto as palavras de Hassoun, cujo filho foi assassinado pelos rebeldes, não podem ser tidas como representativas de toda a comunidade sunita, pese embora ainda haja uma porção de sunitas leais a Assad.

Os apelos do grão-mufti pela paz contrastam ainda com anteriores declarações. Em 2011, numa entrevista transmitida pela televisão Síria, Hassoun alertava os países ocidentais para os perigos de uma intervenção estrangeira na Síria, ameaçando com atentados terroristas nas capitais europeias e da América.

“No instante em que o primeiro míssil atingir a Síria, todos os filhos e filhas do Líbano e da Síria procurarão ser mártires na Europa e na Palestina. Digo a toda a Europa e aos Estados Unidos, prepararemos mártires que já se encontram entre vós, caso bombardeiem a Síria ou o Líbano”, referiu na altura.