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Bispo desaparecido é dado como morto aos 106 anos

05 ago, 2013 • Filipe d’Avillez

O último bispo de Pyongyang, na Coreia do Norte, não é visto desde a década de 40. Agora o Vaticano reconhece que terá morrido, possibilitando assim a abertura do seu processo de beatificação.  

A última edição do Anuário Pontifício, uma obra publicada pela Santa Sé que compila os nomes e dados pessoais das principais figuras da Igreja Católica no mundo, indica que a Diocese de Pyongyang, na Coreia do Norte, está vacante, ou seja, desocupada.

O Anuário Pontifício foi publicado em Julho, mas a notícia relativa à Coreia do Norte apenas foi divulgada esta segunda-feira pelo vaticanista italiano Sandro Magister.

Sabendo que se trata de um dos regimes mais opressivos do mundo, que proíbe qualquer actividade religiosa que não seja directamente controlada pelo Estado e onde ser cristão é crime punível com detenção em campo de concentração, a notícia pode não surpreender, à primeira vista, mas a verdade é que, ao longo de mais de 60 anos, a edição tem incluído sempre o nome de Francis Borgia Hong Yong-ho, com uma nota a indicar que o bispo está desaparecido desde o fim da guerra da Coreia e a consolidação do regime comunista.

A probabilidade sempre apontou para que o bispo tivesse sido morto, ou morrido em cativeiro, como a esmagadora maioria dos católicos e, sobretudo, dos membros do clero que não conseguiu escapar do país, mas a Igreja insistia em manter o nome do bispo como forma de sublinhar a situação que se vive na Coreia do Norte. Agora, contudo, e numa altura em que Hong Yong-ho teria já 106 anos, a Santa Sé dá-o como morto, por solicitação da diocese de Seoul, na Coreia do Sul, que pretende abrir um processo de beatificação para aquele que foi o último prelado de Pyongyang. Naturalmente, o processo não pode ser aberto enquanto a pessoa em causa for considerada viva.

A Coreia do Norte proíbe quase toda a prática religiosa, controlando rigorosamente aquela que permite. Na altura da guerra da Coreia, havia cerca de 55 mil católicos na região. Muitos escaparam, mas não há qualquer informação sobre os restantes. Segundo o arcebispo emérito de Seoul, Nicolau Cheong Jinsuk, há fontes que apontam para a existência de mil católicos, mas outras referem três mil.

Sabe-se que existe algum trabalho de evangelização no país, sobretudo, da parte de cristãos evangélicos, na sua maioria formados na China, que entram ilegalmente no país arriscando a morte.

Há ainda relatos de execuções sumárias de pessoas em casa de quem foram encontradas bíblias. O regime comunista da Coreia do Norte classifica os cristãos como inimigos do Estado e prevê a detenção das famílias cristãs até à terceira geração.