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Mais que cachaça e feijão

29 jul, 2013 • Filipe d’Avillez

Ao fim desta Jornada Mundial da Juventude, que, na verdade, é toda uma semana de festa de fé, devemos questionar-nos sobre se, de facto, vimos o que lá se passou.

Mais que cachaça e feijão
Ainda antes de partir, o Papa Francisco despediu-se dos brasileiros num discurso onde salientou as saudades que já sentia do Brasil. O sentimento será partilhado por muitos jovens de todo o mundo que ao longo destes dias tiveram a oportunidade de se cruzarem com o Santo Padre. Recorde aqui os melhores momentos desta visita, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude.
O Papa deixou, num dos seus primeiros discursos no Brasil, uma pergunta enigmática aos jovens de todo o mundo: “O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos?”
 
Ao fim desta Jornada Mundial da Juventude, que na verdade é toda uma semana de festa de fé, devemos questionar-nos se de facto vimos o que lá se passou.
 
Francisco sabe que já ganhou estatuto de “rock star” e que o mundo já o vê como tal. Mas o problema de se ser uma estrela é que as pessoas esperam sempre uma nova surpresa, um novo espectáculo, mais fogo de vista. E isso tem riscos.
 
Corre-se o risco, por exemplo, de falar da importância da defesa incondicional da vida e da família e no dia seguinte ver em todo o mundo manchetes a falar de cachaça e feijão. Corre-se o risco de se dizer que na nossa sociedade “solidariedade” mais parece um palavrão e ver nas capas dos jornais o “palavrão” em vez da “solidariedade”.
 
E por isso a pergunta do Papa faz todo o sentido. Andamos a ver o essencial? Ouvimo-lo, vimo-lo, rimo-nos e emocionámo-nos com ele, mas as palavras darão fruto na nossa vida, ou foi tudo espectáculo?
 
Porque se é tudo espectáculo, então andamos a perder. Porque este não é um mero "rock star", este vem transmitir-nos palavras de vida eterna, que não são dele, mas de Outro.
 
Como na noite de Domingo, quando disse aos jovens aquilo que mais ninguém lhes ousa dizer nos dias que correm: “Há quem diga que hoje o casamento está ‘fora de moda’. Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, ‘para sempre’, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã”.
 
Francisco foi ao Brasil tratar os jovens como adultos, responsabilizá-los e convidá-los a mudar o mundo. Podemo-nos ficar pela cachaça e pelo feijão, mas fazemos mal.