Tempo
|

"Doentes, idosos e nascituros são obra-prima de Deus"

17 jul, 2013 • Filipe d’Avillez

Mensagem de Francisco para o Dia Pela Vida chega numa altura em que o Reino Unido debate os cuidados paliativos e a Irlanda descriminaliza o aborto em certos casos.

"Doentes, idosos e nascituros são obra-prima de Deus"
“Até os mais fracos, os mais vulneráveis, os doentes, os idosos, os nascituros e os pobres são obras-primas de Deus, criados na sua imagem, destinados à vida eterna e merecedores da maior reverência e respeito”, escreveu o Papa Francisco, numa mensagem de apoio ao Dia Pela Vida, celebrada pela Igreja de Inglaterra e País de Gales, no próximo dia 28 de Julho.

Na sua mensagem o Papa diz que está a rezar para que o Dia Pela Vida ajude a assegurar que a vida humana receba sempre a devida protecção”

Francisco sublinha que “a gloria de Deus é visível num Ser Humano vivo” e pede que todos os católicos trabalhem para “deixar a luz dessa glória brilhar de tal forma que todos reconheçam o inestimável valor da vida humana”.

A mensagem do Papa surge numa altura particularmente importante para o Reino Unido e para a República da Irlanda. Em Dublin passou uma lei que permite o aborto em casos de gravidezes que coloquem em risco a vida da mãe. A norma, aparentemente bastante restritiva, abre uma brecha na lei de total protecção do nascituro naquele país.

Nos casos em que a vida da mãe está directamente ameaçada pela continuação de uma gravidez a Igreja permite que se façam tratamentos que salvem a vida da mãe e que tenham como consequência o fim da gravidez. Por exemplo, no caso de cancro do útero de uma mulher grávida, em que a remoção do útero se revele a única forma de salvar a sua vida, o nascituro morrerá, mas essa é uma consequência secundária da intervenção e não o objectivo primeiro. A regra é conhecida como “lei do duplo efeito” na teologia moral.

Mas no caso da Irlanda o problema está na definição de risco para a vida da mãe, que é tão lato, dizem os críticos, que equivale a uma descriminalização geral do aborto, uma vez que basta uma mulher alegar que se suicidará caso a gravidez continue para se considerar que a sua vida está em risco.

Já no Reino Unido, nos últimos dias, o que tem estado em causa são os cuidados paliativos. Há alguns anos o Governo implementou um plano de cuidados que visava tornar o mais digno e confortável possível a morte de doentes em fase terminal.

O programa, chamado Liverpool Care Pathway (LCP), incluía deixar de alimentar os doentes que estivessem muito perto da morte, para não lhes prolongar a vida. Mas um estudo independente veio agora apontar diversas falhas e abusos ao plano, indicando que em muitos casos a decisão de retirar a alimentação e os fluidos aos doentes foi tomada precocemente, levando à agonia de doentes que em vez de morrer no espaço de horas desidrataram ao longo de dias.

Os autores indicam que há suspeitas que nalguns locais o LCP estava a ser usado como forma dissimulada de eutanásia.

Em resultado do estudo o programa foi suspenso e o Governo afirma que a partir de agora serão desenvolvidos planos individualizados para cada doente.