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Violência entre sunitas e xiitas chega ao Egipto

24 jun, 2013 • Filipe d’Avillez

Quatro pessoas foram mortas quando uma multidão invadiu a casa de um xiita e espancou as pessoas que estavam lá reunidas.  

A violência entre sunitas e xiitas, que tem afectado quase todos os países do mundo islâmico onde as duas comunidades convivem em números significativos, chegou agora ao Egipto.

Quatro pessoas morreram quando uma multidão invadiu a casa de um xiita nos arredores do Cairo, espancando as pessoas que lá estavam reunidas. Quatro das vítimas acabaram por morrer e outros ficaram feridos.

A população xiita do Egipto é muito pequena, havendo entre 800,000 e 2 milhões, num universo de 80 milhões de egípcios. A esmagadora maioria dos cidadãos são sunitas, com uma importante minoria cristã de cerca de 10%.

Desde a queda do regime de Hosni Mubarak, que oprimia o extremismo religioso, o Islão militante sunita tem estado em ascensão, sobretudo através da Irmandade Islâmica, a que pertence o novo presidente Mohamed Morsi, e alguns movimentos salafistas, que promovem a imitação do estilo de vida de Maomé e dos seus primeiros seguidores.

O Governo está a enfrentar duras críticas por parte da população xiita e da oposição secular e já prometeu castigar os culpados de forma exemplar.

O episódio de violência ocorreu numa altura em que a tensão entre as duas principais correntes islâmicas está em ponto de ebulição. O centro actual do conflito está na Síria, com os rebeldes, constituídos quase exclusivamente por sírios da maioria sunita, a combater contra um regime cuja espinha dorsal é composta por alauitas, que pertencem à família xiita.

Desde o início do conflito ambos os lados têm sido reforçados por voluntários. Do lado sunita têm vindo armas e militantes de vários países de maioria sunita. Ao lado do regime está o Irão, a única potência xiita do mundo muçulmano, o Hezbollah, a milícia libanesa xiita e mais recentemente têm surgido voluntários xiitas do Iraque, também.

O Líbano, que vive sempre num difícil equilíbrio entre várias comunidades e etnias, está entretanto muito preocupado que a violência passe definitivamente a fronteira e desestabilize o país. Já houve escaramuças em várias cidades perto da fronteira e no passado domingo um grupo sunita envolveu-se em troca de tiros com o exército. Os seguidores do clérigo Sheikh Ahmed al-Assir refugiaram-se numa mesquita na cidade de Sidon e estão actualmente a ser sitiados por soldados.

Segundo a Reuters, o sheikh lançou um apelo via Twitter aos seus seguidores: “Vinde salvar o vosso povo, que está a ser massacrado”. Entretanto foi negociado um cessar-fogo, mas a situação não está resolvida e os soldados mantêm-se em posição ao redor da mesquita.

Em vários outros países a violência entre xiitas e sunitas tem-se agravado, incluindo no Iraque, onde a situação está no pior estado desde 2006, e no Paquistão, onde a minoria xiita é frequentemente alvo de atentados e massacres.