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Papa

"Comida desperdiçada é roubada da mesa de quem tem fome"

05 jun, 2013

Francisco pede ainda que não se esqueça que o valor da vida humana deve estar sempre acima dos interesses económicos. "Que sem-abrigo morram de frio na rua não é notícia. Pelo contrário, por exemplo, uma queda de 10 pontos em bolsas de algumas cidades é uma tragédia", lamenta.

"Comida desperdiçada é roubada da mesa de quem tem fome"
No Dia Mundial do Ambiente, o Papa Francisco sublinha que a vida humana é mais importante do que os interesses económicos.

O Papa aproveitou a habitual audiência geral das quartas-feiras para criticar o desperdício alimentar. A multidão que se encontrava na Praça de São Pedro saudou as palavras de Francisco com um aplauso.

"A comida que deitamos fora é roubada da mesa de quem é pobre, de quem tem fome", referiu o Papa. "A cultura do descartável tornou-nos insensíveis ao lixo e ao desperdício alimentar, que são ainda mais lamentáveis quando em todas as partes do mundo, infelizmente, muitas pessoas e famílias sofrem de fome e subnutrição. O consumismo levou as pessoas a habituarem-se ao supérfluo e ao desperdício diário de alimento."

O Papa pediu ainda que não se esqueça que o valor da vida humana deve estar sempre acima dos interesses económicos. "Se numa noite de inverno uma pessoa morre aqui na Piazza Ottaviano, por exemplo, isso não é novidade. Se em muitas partes do mundo há crianças que não têm nada para comer, isso não é novidade, parece normal. Não pode ser. E estas coisas entram na normalidade: que sem-abrigo morram de frio na rua não é notícia. Pelo contrário, por exemplo, uma queda de 10 pontos em bolsas de algumas cidades é uma tragédia", lamentou Francisco.

"Assim, as pessoas são descartadas. Nós, as pessoas, somos descartadas, como se fôssemos desperdício", prosseguiu. "Aquilo que domina são as dinâmicas de uma economia e de finanças carentes de ética. Homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo. É a cultura do descartável."

Francisco foi mesmo ao ponto de dizer que "a pessoa humana está hoje em perigo", pelo que há uma "urgência de uma economia humana". "O perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é só uma questão de economia, mas de ética e de antropologia. A Igreja já o sublinhou muitas vezes. Mas o sistema continua igual: o que comanda hoje não é o Homem, é o dinheiro."

O Papa sustentou a sua reflexão, pela segunda semana consecutiva, na passagem do Evangelho sobre a multiplicação dos pães e dos peixes, concluindo que quando os recursos são partilhados chegam para saciar as necessidades reais de todos. Na sua catequese, Francisco também recordou que neste dia 5 de Junho assinala-se o dia mundial do meio ambiente, este ano dedicado ao lema "pensar.comer.conservar".

"Convido todos, neste dia mundial do ambiente, a um sério compromisso no sentido de se respeitar e guardar a criação, ser solícito por cada pessoa e combater a cultura do descartável e do desperdício com uma cultura da solidariedade e do encontro", propôs o Pontífice.

Finda a audiência geral, a conta do Papa no Twitter publicou a seguinte mensagem: "Deus ordenou que guardássemos a criação, sendo isto parte do seu projecto válido para cada um de nós e não só para o início da História".


[notícia actualizada às 11h50]