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Câmara dos Lordes começa a debater casamento homossexual em Inglaterra

03 jun, 2013 • Filipe d’Avillez

Os bispos anglicanos estão a ser fortemente pressionados para se abster no debate para que a Igreja oficial não sofra caso o projecto seja derrotado na câmara alta depois de ter passado nos comuns.  

Câmara dos Lordes começa a debater casamento homossexual em Inglaterra
A Câmara dos Lordes, em Londres, começa esta segunda-feira, a partir das 15h00, a debater o projecto de lei para legalizar o casamento homossexual em Inglaterra. Para terça está agendada a votação.

A lei tem de passar na câmara alta depois de ter sido aprovada na câmara dos Comuns, por iniciativa do partido do Governo, liderado por David Cameron.

Os opositores à alteração da definição natural de casamento depositam agora as suas esperanças numa derrota do projecto nos Lordes, onde têm assento os bispos anglicanos.

Uma coligação de líderes cristãos endereçou uma carta aos bispos, pedindo-lhes que sejam firmes e não se deixem vergar pelas tendências sociais. A liderança da Igreja tem sido firme em condenar o casamento homossexual, mas o jornal britânico “The Daily Telegraph” dá conta, na sua edição online, de fortes pressões para que os bispos se abstenham na votação.

Surpreendentemente, a pressão estará a vir de dentro da própria Igreja, com algumas figuras de autoridade a temer que uma derrota da medida tenha repercussões negativas para a instituição, sobretudo se comparecerem muitos bispos e se o “não” vencer por poucos votos. Mas o Governo também estará a fazer força nesse sentido, ameaçando, segundo uma jornalista do mesmo jornal britânico, os bispos a não se oporem, sob pena de perderem o seu “estatuto especial”.

Caso os lordes chumbem a medida, o parlamento teria ainda a possibilidade de fazer passar a lei de qualquer maneira, mas isso abriria necessariamente uma crise constitucional.

Todos os bispos anglicanos têm assento na Câmara dos Lordes, mas por regra revezam-se e apenas dois participam nos trabalhos diários. Segundo apurou o “Telegraph”, membros da burocracia anglicana estão a tentar que apenas seis bispos participem no debate, para minimizar os eventuais efeitos negativos da sua influência, mas espera-se que vários bispos desafiem estes conselhos e participem, votando contra.

O próprio Arcebispo de Cantuária é contra a lei e pretende votar nesse sentido.

Pelo menos um bispo, contudo, já indicou ser favorável à medida. O bispo Nicholas Holtam, de Salisbury, publicou um artigo em que comparou a oposição cristã ao casamento homossexual à posição dos cristãos face à escravatura até à sua abolição. O que o prelado anglicano não referiu foi que existem fortes condenações à escravatura desde que Pio II tomou posição contra ela no ano 1462. Paulo III, Urbano VIII e Bento XIV fizeram o mesmo e existiam religiosas dedicadas exclusivamente à libertação de escravos, como os padres mercedários e a ordem trinitária.