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Clérigos consolidam poder no Irão banindo candidatos incómodos

22 mai, 2013 • Filipe d’Avillez

Um aliado próximo de Ahmadinejad foi proibido de candidatar-se à presidência do Irão, tal como um dos próprios “pais” da revolução islâmica, Ali Rafsanjani.  O país é uma teocracia islâmica.

Clérigos consolidam poder no Irão banindo candidatos incómodos
Sete dos oito candidatos aprovados para a eleição presidencial do Irão são oriundos da mesma facção conservadora que governa o país, composta por clérigos e por membros da guarda revolucionária.

De fora, vetados pelos clérigos, ficaram não só um aliado próximo do actual Presidente Ahmadinejad, como também um dos pais fundadores da revolução islâmica, Ali Akbar Rasfanjani, que nos últimos anos tem contestado o regime.

O Irão é uma teocracia islâmica. Apesar de ter um Presidente da República, o líder máximo é o ayatollah Khamenei e um conselho de clérigos xiitas toma todas as decisões de verdadeira importância, incluindo a selecção de candidatos à presidência.

Ao longo dos anos desde a revolução, contudo, o cargo de presidente, eleito por sufrágio universal, incluindo mulheres, tem-se tornado muitas vezes foco de oposição moderada contra o domínio dos ayatollahs.

Em 2009 Ahmadinejad venceu um segundo mandato mas enfrentou forte contestação nas ruas, com os manifestantes a reclamar fraude. Na altura o actual presidente contou com o apoio de Khamenei mas ao longo dos anos deste mandato a relação deteriorou-se, com os clérigos a suspeitar do culto de personalidade que o Presidente procura cultivar. Ahmadinejad não pode candidatar-se uma terceira vez, mas já tinha apoiado publicamente o seu aliado e genro Esfandiar Rahim Mashaei.

Mas Mashaei foi vetado pelos clérigos. O aliado de Ahmadinejad é odiado pela instituição revolucionária iraniana, pelo seu estilo incendiário e porque abraça uma teologia milenarista, que defende que a vinda do Mahdi, o 12º sucessor de Maomé que os xiitas iranianos acreditam ter desaparecido e que voltará no fim dos tempos, pode ser apressada através da criação de caos internacional. A posição não só preocupa os clérigos pelo perigo de destabilização social, mas também porque coloca em causa a sua posição de líderes supremos e únicos intermediários entre a vontade de Deus e a sociedade.

Ahmadinejad já garantiu que vai interceder a favor do seu amigo e colaborador, confiando que o supremo líder será favorável aos seus argumentos, mas a probabilidade de sucesso não se apresenta muito segura.

No panorama actual apenas um dos oito candidatos, Hassan Rowhani, tem posições ligeiramente dissonantes dos restantes. É natural que Rowhani, que é próximo de Rasfanjani, procure agora conquistar os eleitores descontentes com o regime, mas é pouco provável que o conselho revolucionário permita perder o controlo de mais esta instituição, consolidando assim o poder no país.

Vários clérigos influentes já falaram inclusivamente na possibilidade acabar com o cargo de Presidente.

As eleições no Irão decorrem no dia 14 de Junho.