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Projecto Famílias já evitou quase 1.500 institucionalizações de crianças

20 mai, 2013 • Ângela Roque

Iniciativa do Movimento de Defesa da Vida actua directamente nas famílias de risco. Cada ano de intervenção custa o mesmo que um mês de institucionalização de uma criança e a taxa de sucesso ronda os 80%.  

O "Projecto Famílias" foi criado pelo Movimento de Defesa da Vida (MDV), e desde 2008, já evitou que quase 1.500 crianças fossem retiradas aos pais e acolhidas em instituições.

Graça Mira Delgado, do MDV, explica como funciona: "crianças que estão na iminência de serem retiradas para serem institucionalizadas são-nos sinalizadas e nós fazemos uma intervenção intensiva, caso as famílias o aceitem, em casa da própria família. Não há nenhum trabalho de gabinete, todo o trabalho é feito em casa da família".

Desde 2008 já foram apoiadas mais de 660 famílias, num trabalho que exige disponibilidade total aos técnicos. "Um técnico, a que chamamos assistente familiar, só trabalha com duas famílias ao mesmo tempo, sem horário de trabalho. Nós costumamos dizer que o técnico está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana. Não é das 9h às 17h que a família tem problemas. Os problemas surgem quando os filhos chegam a casa, quando o pai e a mãe se encontram, aos fins-de-semana, quando estão todos juntos", explica.

"A família sabe, desde o primeiro dia, que durante seis semanas tem aquela ajuda, e que ao fim das seis semanas sai daquela intensidade. O técnico continua a acompanhar a família ao longo de um ano, e está sempre contactável."

Os técnicos podem ser psicólogos ou assistentes sociais e recebem formação específica para este projecto: "São técnicos licenciados nas áreas das ciências humanas e que depois têm formação específica na metodologia deste projecto, ao longo da intervenção há uma supervisão semanal com todos os técnicos, obrigatória, de modo a que os objectivos marcados com a família sejam aferidos, corrigidos e criados novos."

A quantidade de pessoas disponíveis para intervir nas famílias depende, essencialmente, dos financiamentos disponíveis, mas é um investimento que compensa largamente ao Estado: "Neste momento temos nove técnicos. Já tivemos mais, depende dos financiamentos que conseguimos obter. Podemos dizer que uma intervenção de um ano com uma criança do projecto família custa o mesmo que um mês se a criança estiver institucionalizada, portanto custa 12 vezes menos".

A eficácia do método tem garantido o financiamento da Segurança Social a este projecto, que poderá em breve ser alargado aos distritos de Setúbal e do Porto: "O nosso financiamento mais estável é do Centro Distrital de Lisboa da Segurança Social, que financia 80% do apoio que é suposto darmos a 105 crianças em Lisboa. Temos trabalhado também na linha de Cascais, Oeiras, Loures, Sintra, distrito de Setúbal, em Almada, Barreiro, Montijo, Seixal, toda essa zona, e depois no distrito do Porto."

"Para além da Segurança Social já tivemos financiamentos de empresas privadas, candidaturas a programas da Gulbenkian, temos uma candidatura à Câmara Municipal de Lisboa, que também está a ser apoiada. Temos tido contactos com a Segurança Social no sentido deste apoio dado no distrito de Lisboa ser alargado a Setúbal e ao Porto. Ainda não temos o ‘sim’ definitivo, mas há fortes possibilidades de efectivamente alargarmos, e isso é muito importante", aponta Graça Mira Delgado.

Para já o recente prémio "Local Answers Award", dado nas Conferências do Estoril, foi um grande incentivo para continuar a apoiar as famílias: “Quando vemos o trabalho reconhecido, isso é muito animador. Havia um valor económico no prémio de 10 mil euros, no entanto, o reconhecimento que é dado ao trabalho foi o mais importante.”

O reconhecimento é um resultado natural do grau de sucesso do projecto. Ao fim de um ano de intervenção, entre 70 a 80% das famílias consegue manter a guarda das crianças.

"Nós acreditamos muito na família e na capacidade de mudança das pessoas, acreditamos que a grande maioria dos pais gosta muito dos seus filhos e faz o melhor que pode e sabe por eles, se não faz mais e melhor é porque não sabe ou porque não pode. É nossa função ajudá-los."