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Cardeal Seán O’Malley

"Tensão entre Igreja e Estado vai aumentar com a secularização"

06 mai, 2013 • Filipe d’Avillez

Nos Estados Unidos têm sido frequentes os conflitos entre os bispos e Obama. Arcebispo de Boston diz que é preciso preparar os fiéis para darem testemunho num ambiente hostil.

"Tensão entre Igreja e Estado vai aumentar com a secularização"

O Cardeal Seán O'Malley acredita que a secularização significa que vão ser cada vez mais frequentes as tensões entre a Igreja e o Estado na América. O Arcebispo de Boston, que esteve no passado fim-de-semana nos Açores a presidir às festas do Senhor Santo Cristo, reconhece que a convivência com Obama não tem sido fácil, mas insiste que não existe um partido com o qual a Igreja se identifica nos Estados Unidos.

"Os republicanos e democratas têm coisas que estão de acordo com a Igreja e outras que não. A administração actual tem tido muitos conflitos, sobretudo por causa do aborto e do casamento homossexual. Por outro lado, os democratas, no que diz respeito a emigração e justiça social económica, estão mais perto das posições da Igreja", diz à Renascença Seán O'Malley.

"Mas a tensão é real e para nós o Evangelho da Vida é o centro do nosso testemunho de doutrina social. Com este processo de secularização penso que as tensões entre Igreja e Estado vão aumentar, infelizmente, mas é uma realidade e temos de preparar o nosso povo para dar testemunho da fé num ambiente por vezes hostil."

Seán O’Malley, que fala fluentemente português e está encarregado de uma grande comunidade portuguesa na diocese de Boston, explica que a Igreja americana é um mosaico de diferentes culturas, incluindo a portuguesa, e que é nesse sentido que se pode falar num catolicismo americano.
 
"Somos uma Igreja de imigrantes, mas os emigrantes americanos formam um mosaico entre si e os portugueses americanos já não são iguais aos portugueses de Portugal, os irlandeses americanos têm uma experiência diferente. Têm diferentes tradições, mas também se integram numa nova realidade."

Apesar de a sociedade continuar a ser muito religiosa, também nos Estados Unidos começam a surgir novos desafios à Igreja. "Estamos a crescer, sobretudo devido aos novos imigrantes que chegam, que são sobretudo católicos. Para nós é um grande desafio ter vocações suficientes para ter padres e religiosas e pessoas para trabalhar com os recém-chegados. Também há um processo de secularização nos Estados Unidos, que para nós é algo novo, porque apesar de ser um país muito desenvolvido, os americanos são crentes e religiosos, mas estamos a começar a experimentar um pouco o que já existe na Europa - muita gente que não pertence a nenhuma Igreja, o que para nós é uma coisa nova, mas é uma realidade sobretudo entre os mais jovens."

A resposta, considera, está na nova evangelização. "Temos de nos dedicar a evangelizar os católicos e os cristãos que já não praticam a sua fé, que receberam uma vez a mensagem do Evangelho, mas que agora estão afastados. É um desafio muito grande, mas importante para o nosso futuro."

Para isso, Seán O'Malley conta com a ajuda do Papa Francisco, cujo estilo, acima de tudo, é muito cativante. "Acho que vão criticar o Santo Padre quando escutarem os seus ensinamentos sobre questões morais, mas todo o mundo está feliz com o seu estilo e acho que isso vai continuar igual. Dizem que o número de pessoas que está a chegar a Roma para as audiências é muito grande. Cresceu com Bento XVI, mas com Francisco continua a crescer. Acho que é um bom indício de entusiasmo que o povo tem. Os meios de comunicação secular têm outra visão do mundo e da vida e sempre vão estar em desacordo com a Igreja, e sobretudo com o Papa que é o nosso mestre principal, mas acho que até os inimigos da Igreja gostam do seu estilo e isso vai continuar igual."