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Uma inauguração histórica ao nível ecuménico

19 mar, 2013 • Filipe d’Avillez

Pela primeira vez em quase 1000 anos, o primeiro entre os patriarcas ortodoxos marcou presença na inauguração de um Bispo de Roma. Estiveram representadas mais de 20 confissões cristãs no Vaticano.

Uma inauguração histórica ao nível ecuménico
A missa de inauguração do pontificado de Francisco tornou-se um marco histórico do ponto de vista do diálogo ecuménico, uma vez que contou com a presença do Patriarca Bartolomeu I, de Constantinopla, o primeiro em honra e dignidade da Comunhão Ortodoxa. Um Patriarca de Constantinopla não marcava presença numa celebração destas há quase mil anos, quando as duas igrejas se separaram.

As relações ecuménicas têm melhorado consideravelmente ao longo das últimas décadas, sobretudo desde o Concílio Vaticano II. A par das conversações doutrinais, que têm lugar entre especialistas, tem-se assistido de forma marcante a um ecumenismo da amizade. Bento XVI e Bartolomeu I visitaram-se frequentemente, mas a presença numa missa de inauguração é um passo inédito.

Durante a celebração desta terça-feira, o Papa fez questão de saudar de forma especial, na altura do abraço da paz, o Patriarca Bartolomeu, que foi conduzido ao altar para o efeito.

Este pontificado, embora ainda curto, tem sido marcado por um estilo que transmite várias mensagens que podem ser bem recebidas pelos ortodoxos - a simplicidade de estilo do Papa Francisco agrada à tradição ortodoxa. Pese embora os cristãos orientais tenham uma liturgia à primeira vista muito mais sumptuosa e rica que a católica actual, todos os hierarcas nestas igrejas vêm da tradição monástica, pelo que a simplicidade e humildade são marcos com os quais facilmente se identificam.

Outro aspecto, que pode passar despercebido, é o facto de Francisco se ter referido várias vezes a si mesmo como Bispo de Roma e não como Sumo Pontífice. O sublinhar do seu cargo primordial e essencial, por oposição ao seu ministério universal, tem sido bem recebido pelos ortodoxos. Estes reconhecem a primazia do Bispo de Roma na Igreja Universal, mas discordam quanto ao exercício dessa primazia, dizendo que ela é apenas de honra e não de autoridade, um assunto que é discutido nas comissões teológicas mistas.

O aspecto ecuménico não foi esquecido durante a cerimónia de inauguração. É normal a missa ter vários aspectos de origem oriental, até por respeito às Igrejas Católicas de rito oriental, mas o facto de o Evangelho ter sido cantado, ao estilo oriental, apenas em grego e não em latim não terá passado despercebido aos cristãos de igrejas orientais.

Além de vários representantes ortodoxos, incluindo da Igreja Copta, que não está em comunhão nem com Roma nem com Constantinopla, encontravam-se também na Praça de São Pedro membros de igrejas reformadas ou protestantes. Entre estes destaca-se o Arcebispo de York, John Sentamu, que viajou em representação do Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, cuja própria cerimónia de instalação é dentro de dois dias, no Reino Unido.