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Miguel Relvas acusado de ameaçar divulgar dados da vida privada de jornalista

18 mai, 2012

A informação é avançada pelo conselho de redacção do jornal “Público”. Gabinete do ministro desmente.

Miguel Relvas acusado de ameaçar divulgar dados da vida privada de jornalista

O conselho de redacção do jornal “Público” acusa o ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, de ameaçar divulgar na Internet dados da vida privada de uma jornalista.

Miguel Relvas terá dito que se fosse publicada uma notícia sobre o caso das alegadas fugas de informação nas secretas, enviaria uma queixa à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), promoveria um “black out” de todos os ministros em relação ao “Público” e divulgaria na Internet dados da vida pessoal da jornalista, diz o conselho de redacção (CR), em comunicado.

“O CR considera que as ameaças, cujo único fim era condicionar a publicação de trabalhos incómodos para o ministro, são intoleráveis e revelam um desrespeito inadmissível do governante em relação à actividade jornalística, ao jornal ‘Público’ e à jornalista Maria José Oliveira.”

A Renascença tentou contactar a directora do "Público", Bárbara Reis, mas, apesar da disponibilidade inicial, até ao momento não foi possível obter qualquer declaração.

Contactado pela Renascença, o gabinete do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, desmente categoricamente qualquer ameaça.

O conselho de redacção  fala numa “grosseira distorção do comportamento de um governante que, ao invés de zelar pela liberdade de imprensa, vale-se de ameaças – um acto essencialmente cobarde – para tentar travar um órgão de comunicação social que cumpre o seu inalienável papel de contra-poder”.

Na sequência da audição parlamentar de Miguel Relvas, na terça-feira, a jornalista Maria José Oliveira questionou o ministro sobre uma série de alegadas incongruências no seu depoimento. Segundo o CR, o ministro telefonou depois à editora de política do “Público”,  queixou-se de perseguição e terá feito ameaças.

A notícia em que a jornalista Maria José Oliveira estava a trabalhar acabou por não ser publicada, o que merece as críticas do CR.

Ministro nega pressões
O gabinete do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, desmente categoricamente qualquer ameaça.

“Face a notícias hoje vindas a lume atribuídas ao conselho de redacção do jornal “Público” envolvendo supostas ameaças ou pressões efectuadas pelo ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, em relação a algum membro do corpo redactorial daquele jornal – órgão de comunicação social privado – vem este gabinete considerar as mesmas totalmente destituídas de fundamento, repudiando-as categoricamente”, pode ler-se num comunicado enviado às redacções.

O gabinete de Miguel Relvas frisa que “a decisão de publicar ou não uma determinada notícia compete exclusivamente aos membros da direcção editorial de um órgão de comunicação social". "Sem prejuízo de poderem ser accionados todos os meios legais para a defesa da honra e do bom nome do ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, direito que aliás assiste a qualquer cidadão, sem que em nenhum momento seja colocada em causa a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa", lê-se ainda.

Direcção do jornal fala em pressão “inaceitável”
A direcção do “Público” diz, num comunicado divulgado na sequência da notícia avançada pelo conselho de redacção, ter protestado “junto do ministro Miguel Relvas por ter exercido uma pressão que toda a direcção considera inaceitável”. O comunicado não precisa a natureza das pressões.

A directora Bárbara Reis explica que a posição do jornal, “ao longo dos anos, tem sido a de não reagir ou denunciar publicamente as ameaças ou pressões feitas a jornalistas”. As excepções a essa regra, esclarece o comunicado da direcção, apenas devem ser consideradas quando existam violações da lei, o que não aconteceu, segundo concluiu o advogado do jornal.

A direcção do “Público” critica o CR do jornal por ter divulgado a informação e fala numa “manipulação intolerável dos factos”.