09 mar, 2012 • Lidia Magno
"Uma falta de lealdade institucional que fica registada na história da nossa democracia." É desta forma que o Presidente da República, Cavaco Silva, interpreta o comportamento do ex-primeiro-ministro, José Sócrates, ao ocultar informação sobre as medidas do PEC IV.
As palavras de Cavaco Silva foram escritas no prefácio do seu livro ”Roteiros”, que assinala a passagem de um ano sobre a sua reeleição.
O chefe de Estado passa em revista as relações com o Governo de José Sócrates, a crise política, os discursos e o seu entendimento constitucional sobre a condução dos destinos do país desde que tomou posse, em Março de 2011.
Lembra o chefe de Estado que o anúncio do PEC IV o apanhou de surpresa, sem que o primeiro-ministro tivesse dado conhecimento prévio do programa que iria apresentar.
“A informação que me era referida era de uma situação muito positiva relativamente à execução orçamental nos primeiros meses do ano”, escreve Cavaco Silva. Assim, o Presidente foi “impedido de exercer a sua magistratura de influência, com vista a evitar uma crise política”.
O Presidente recorda que não tem poderes para demitir o primeiro-ministro e que não pode impor aos partidos, contra a sua vontade, o chamado "Governo de salvação nacional". Contra o então primeiro-ministro José Sócrates, Cavaco acrescenta que o Governo revelava "dificuldades em adaptar-se à situação decorrente da perda da maioria no Parlamento e só depois de muito pressionado aceitava dialogar com a oposição".
Mais, os partidos manifestavam um "forte ressentimento e desconfiança em relação ao PS e sobretudo ao seu líder". A última palavra do prefácio da obra "Roteiros" de Cavaco Silva é dirigida aos portugueses, com garantias do Presidente de uma "magistratura activa" e com o compromisso de "proximidade com todos os cidadãos".