Emissão Renascença | Ouvir Online

Grécia

Dirigente do BE. Acordo com credores deve levar a novo referendo

07 jul, 2015 • José Pedro Frazão

O programa de debate político "Falar Claro" transformou-se num grande debate sobre a Grécia, com o socialista Vera Jardim, Diogo Feio, do CDS e José Gusmão, dirigente do Bloco de Esquerda. 

Dirigente do BE. Acordo com credores deve levar a novo referendo
O programa de debate político "Falar Claro" transformou-se num grande debate sobre a Grécia, com o socialista Vera Jardim, Diogo Feio, do CDS e José Gusmão, dirigente do Bloco de Esquerda.

O que fazer com o "Não" grego às propostas dos credores? É a pergunta que domina a semana e o economista José Alexandre Gusmão, dirigente e ex-deputado do Bloco de Esquerda, até vai mais além de um possível acordo entre o Governo de Atenas e as instituições credoras.

"A vontade dos gregos a esse nível é: rejeitam uma proposta concreta que, obviamente, exige uma interpretação política da parte do Governo. Do meu ponto de vista, até aconselharia um novo referendo, caso o Governo grego consiga chegar a acordo com as instituições", defendeu na última noite, numa edição especial do programa "Falar Claro" na Renascença.

José Gusmão entende a opção do Governo Syriza por um referendo, mas reconhece que Tsipras deveria ter antecipado, e muito, o anúncio de uma consulta aos gregos sobre as propostas dos credores.

"O Governo grego fez uma coisa que faz todo o sentido no quadro do mandato que recebeu dos cidadãos gregos, que era romper com a austeridade, ficando no euro. Estes meses de discussão entre o Eurogrupo, o Governo grego e as outras instituições europeias tiveram, inclusivamente, episódios pouco edificantes e foram inúteis do ponto de vista do processo negocial realmente existente", diz.

"Sempre foi objectivo das instituições europeias que o novo Governo grego assumisse os compromissos do anterior. Penso que houve alguma ingenuidade do Governo grego em pensar que era possível encontrarem-se a meio caminho. Teria sido melhor ideia convocar o referendo assim que essas divergências políticas fossem claramente estabelecidas. E eu penso que isso aconteceu desde a primeira hora", argumenta o dirigente bloquista, num sinal de concordância com uma crítica do socialista Vera Jardim.

"O Syriza andou quatro ou cinco meses a 'enrolar'. Este referendo podia e devia [ter sido realizado há alguns meses]. Logo que o Syriza se confrontou com uma atitude europeia que era visível de: 'vocês têm que fazer um conjunto de medidas de austeridade’. O Syriza devia ter consultado o povo grego, mas não agora - há dois ou três meses", critica o antigo ministro do PS, que acentua ainda um caminho "mais apertado" para Tsipras em Bruxelas. "É muito difícil ao Governo grego, aos representantes gregos nas negociações, aceitarem medidas que foram liminarmente, e com uma maioria esmagadora, rejeitadas pelo povo grego".

Cataventos e marés
Os comentadores mostram-se unidos na esperança da manutenção da Grécia na moeda única.

"Continuo com alguma esperança que se possa chegar a um acordo", confessa Diogo Feio," já não será de 25ª mas de 26ª hora, que será, perante as circunstâncias que vivemos, um acordo menos mau. Já não é possível chegarmos a uma solução que seja positiva". O centrista fala de um momento "muito ao pé do desconhecido, perigoso e [que] merece, da parte dos vários responsáveis políticos, uma postura cautelosa".

Vera Jardim também rema a favor de uma maré de esperança na própria manutenção da Grécia no Euro. "O problema da Europa é que vai sempre atrás do prejuízo. Não tenhamos ilusões - a saída da Grécia da Zona Euro - se se confirmar, espero que não - é uma derrota trágica para o projecto europeu", alerta no debate habitual das segundas-feiras na Edição da Noite da Renascença.

José Gusmão utiliza o mesmo adjectivo em jeito de aviso. " Qualquer ideia de que se expulsa a Grécia e o negócio continua como sempre, é uma ilusão trágica", diz o dirigente bloquista que reconhece que " o Banco Central Europeu tem todas as condições para pôr a Grécia fora do euro, se for essa a decisão das instituições".

Já Diogo Feio adverte que o momento desaconselha "retóricas ideológicas". Como exemplo, o dirigente do CDS lembra que o Syriza "qualificava os credores de uma forma muito negativa, quando se referia à União Europeia de uma forma que não me parecia propriamente a mais simpática".

José Gusmão argumenta que a referência de Christine Lagarde à necessidade de "adultos na sala" também tem que ser censurada. Diogo Feio anui, antes do remate de Vera Jardim: "Há frases para todos os gostos e de todos os quadrantes."

Ainda assim, Diogo Feio insiste ainda numa bicada ao PS. "Se eu olho para o Syriza e vejo um catavento de posições – isto tem surgido durante todo este processo -, olho para o dr. António Costa e vejo um catavento de reacções, que não se consegue perceber muito bem qual a linha. Dizer-se que há uma lógica democrática na Grécia – com certeza que há -, mas eu tenho de me lembrar de todas as outras lógicas democráticas que existem na Zona Euro e na União Europeia", conclui o dirigente do partido liderado por Paulo Portas.