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José Sócrates. Seis meses detido, seis momentos

21 mai, 2015 • João Carlos Malta

Faz esta quinta-feira seis meses que José Sócrates foi detido no aeroporto de Lisboa vindo de Paris. Seleccionamos seis momentos que ajudam a fazer o filme deste meio ano.

José Sócrates. Seis meses detido, seis momentos
Em seis actos, contamos a narrativa dos últimos seis meses do ex-primeiro-ministro José Sócrates. A detenção, as visitas, os recursos e as acusações.

21/11/14 – A surpresa

José Sócrates é detido, numa sexta-feira à noite, à chegada ao aeroporto de Lisboa, oriundo de Paris. O país é sacudido pela surpresa. Pela primeira vez na história um primeiro-ministro é preso. Sócrates será acusado de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

São também detidos o seu amigo e ex-administrador do grupo Lena Carlos Santos Silva e João Perna, ex-motorista de Sócrates.

24 /11/14 – A confirmação

Sócrates fica em prisão preventiva. Depois de três dias de interrogatório, é decretada a prisão preventiva de Sócrates, assim como de Perna e de Carlos Santos Silva. Estava consumado o principal receio dos apoiantes e confirmadas as suspeitas dos inimigos.

Mas este é também o momento em que Portugal fica a conhecer João Araújo, o peculiar advogado do ex-governante. As entradas e saídas do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) tornam-se célebres, de tão inusitada que era a forma como o causídico respondia aos jornalistas.

26/11/14 – O pai do PS fala

Começa a romaria de personalidades à cadeia de Évora, onde Sócrates está detido. Mário Soares chega com estrondo. Já foi inimigo fidalgal de Sócrates, agora é um aliado leal e combativo.

À porta do estabelecimento prisional, Soares é duro com a justiça e usa palavras contundentes para defender a inocência do amigo. "É um homem digno e não pode ser tratado de uma maneira... nem sequer foi julgado". "Há uma campanha contra ele que é uma infâmia. É a comunicação social que faz, mas são os tipos que estão por trás dela", acusou.

Segundo o fundador do partido, "todo o PS está contra esta bandalhada", apesar de este caso não ter "nada a ver com os socialistas". "Tem a ver com os malandros que estão a combater um homem que foi um primeiro-ministro exemplar", frisou.

Mário Soares já passou pelo menos três vezes por Évora e em muitas situações públicas ou artigos de opinião tem tomado a linha da frente do apoio a Sócrates.

29/11/14 – As réplicas do sismo

Era a consagração do líder “directo” do PS, António Costa. Depois de ter vencido as primeiras directas da história do partido, António Costa e o congresso do PS foram apanhados no meio de um "choque brutal".

Há quem defenda que Sócrates vai apostar na politização do caso, mas Costa corta o mal pela raiz.

O líder eleito refere-se à prisão preventiva de José Sócrates logo no primeiro discurso aos militantes, considerando-a um "choque brutal", mas separa política e justiça e consegue pôr este tema fora dos dois dias de debate.

A atitude vale-lhe muitos elogios.

19/03/15 – Os cabritos e as cabras
 
É mais uma tentativa da defesa de Sócrates para reverter a prisão preventiva, mas a que mais ficou na memória. As palavras ajudaram. Na altura, o jornal “i” publicou que os juízes desembargadores Agostinho Torres e João Carola acreditam existirem fortes indícios da prática dos crimes de que estão indiciados.

No relatório é considerada "completamente inaceitável" a movimentação de milhões de euros associada a uma justificação de amizade e é utilizada uma metáfora que caiu mal na defesa de Sócrates: "Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vêm".

E acrescentam: "Diríamos, amizade sim, por que não? Mas tanto assim, também não!", frisam os juízes no relatório, lembrando que Carlos Santos Silva é um empresário cujo objectivo é "reproduzir, multiplicar e ter lucros". O que o torna, na opinião dos juízes, tendo em conta os empréstimos milionários ao amigo, "um verdadeiro milagre de altruísmo".

No total, já foram entregues seis pedidos de "habeas corpus" para libertar José Sócrates.

24/04/15 – A ligação à corrupção?

A defesa tem defendido que a investigação não possui provas que liguem José Sócrates a um alegado crime de corrupção. E sem essas provas caem por terras os crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Pelo que se foi conhecendo pelos jornais, os casos de corrupção teriam a ver com o período de governação de José Sócrates e alegados favorecimentos na conquista de contratos pelo grupo Lena.

Joaquim Barroca Rodrigues, vice-presidente do grupo, ficou em prisão preventiva, no âmbito da "Operação Marquês", podendo esta medida de coacção ser substituída pela prisão domiciliária com pulseira electrónica, determinou o Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC).

Joaquim Barroca Rodrigues foi detido na sequência de buscas realizadas à sede da empresa, na Quinta da Sardinha, concelho de Leiria. Segundo o TCIC, existem fortes indícios da prática pelo arguido dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção activa.