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Ex-deputado do PSD sobre coligação: "O CDS fez um belo negócio"

28 abr, 2015 • José Pedro Frazão

José Eduardo Martins assegura que o líder do PSD tem o partido na mão até às eleições e que ninguém vai atacar a direcção como Passos e Relvas criticaram Ferreira Leite. Vera Jardim diz que o anúncio da coligação está ligado à divulgação do cenário macroeconómico do PS.

Ex-deputado do PSD sobre coligação: "O CDS fez um belo negócio"
O antigo governante social-democrata assegura que o líder do PSD tem o partido na mão até às eleições e que ninguém vai atacar a direcção como Passos e Relvas criticaram Ferreira Leite. Vera Jardim diz que o anúncio da coligação está ligado à divulgação do cenário macroeconómico do PS.

“O PSD tem um presidente que manda mesmo no PSD, como poucos no passado”. A frase é de José Eduardo Martins, ex-deputado do PSD e um “desalinhado” face à actual liderança do partido.

Convidado desta semana do programa “Falar Claro” da Renascença, o advogado assegura que Pedro Passos Coelho não vai ter qualquer oposição interna até às eleições. Mesmo que o acordo de coligação com o CDS possa não agradar a todos nas hostes laranja.

“Para Portas, não há nenhuma dificuldade. Paulo Portas consegue que o preço da estabilidade [como referência para este acordo] seja a partida dos resultados eleitorais das últimas eleições legislativas. E não aquele fenómeno que em ciência politica se explica que, cada vez que dois partidos estão em coligação e depois vão separados a eleições, as pessoas tendem a escolher o maior para fazer contraponto à proposta que não querem. É o que se passa agora na Inglaterra onde os liberais vão desaparecer. Nesse sentido, o CDS faz um bom negócio”, defende o antigo secretário de Estado dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes.

PSD responsavelmente calado
Quem é que podia causar problemas? As bases do PSD, se entendessem que estavam sub-representadas nesta coligação política, reconhece José Eduardo Martins. “Não acredito que isso vá acontecer. Até agora não se ouviu nada, nem acredito que se vá ouvir”.

Afastado de momento da política activa, em rota de colisão com a liderança de Passos Coelho, José Eduardo Martins não resiste a um remoque: “Os militantes do PSD têm, em anos eleitorais, um especial sentido de responsabilidade de guardar a crítica para o dia seguinte”, com uma excepção “muito pontuada por Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas quando Manuela  Ferreira Leite era líder do partido”.

O ex-deputado garante que “a direcção do PSD tem um partido absolutamente concentrado em preparar esta batalha - que querem apresentar como muito maniqueísta, não acho que seja - das eleições deste ano. As bases do PSD não vão criar problemas. O mau negócio é para o PSD e Pedro Passos Coelho vai conseguir resolver isso. Não me parece que a coligação vá sofrer grandes abalos daqui até às eleições, até porque não há ninguém no PSD e no CDS a fazer aquilo que algumas oposições internas faziam da penúltima vez que houve eleições legislativas.”

Coligação é solução coerente
O militante do PSD diz que, “em circunstâncias ideais”, o PSD deveria ir sozinho a eleições. Mas desta vez, reconhece, essa hipótese não seria possível, desejável ou coerente.

“Quatro anos para executar uma política de médio-longo prazo são, hoje, muito pouco [tempo]. A coligação executou um programa que, ao princípio, não era o seu, mas do qual não divergia ideologicamente. Achava que havia um conjunto de desequilíbrios que se tinham vindo a acumular e que era preciso resolver. Acha que esse programa está a meio, apresenta um programa comum para eliminar a sobrecarga fiscal que esse programa justificou em quatro anos, portanto, faz sentido que se apresentem em conjunto.”

José Eduardo Martins diz que a coligação eleitoral é também motivada pelo cálculo de que PSD e CDS “só podem ter uma chance de sucesso eleitoral se o fizerem em conjunto. Quão forte está a coligação? Obviamente mais forte do que estava num passado recente”.

Para o socialista José Vera Jardim, o anúncio da coligação “foi precipitado por razões de agenda política. O que não quer dizer que não fosse anunciado daqui a dez ou 15 dias. Tem a importância que tem”.