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Passos Coelho contra conferência europeia para renegociar dívidas

30 jan, 2015

No Parlamento, Ferro Rodrigues criticou reacção portuguesa à vitória do Syriza. Passos Coelho diz que a austeridade está a perder relevância em Portugal.

Passos Coelho contra conferência europeia para renegociar dívidas
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, não apoiará a iniciativa do novo governo grego para a realização de uma conferência europeia para a renegociação das dívidas soberanas. Não estarei do lado de nenhuma conferência que seja para perdoar a dívida ou reestruturar a dívida à custa dos povos europeus, isso é claro, muito claro", respondeu o chefe do Governo português à deputada bloquista Catarina Martins, no debate quinzenal desta sexta-feira, no Parlamento.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, não apoiará a iniciativa do novo governo grego para a realização de uma conferência europeia para a renegociação das dívidas soberanas.

"Não estarei do lado de nenhuma conferência que seja para perdoar a dívida ou reestruturar a dívida à custa dos povos europeus, isso é claro, muito claro", respondeu o chefe do Governo português à deputada bloquista Catarina Martins, no debate quinzenal desta sexta-feira, no Parlamento.

No debate, o líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, quis saber se o primeiro-ministro se colocará ao lado "dos falcões da austeridade, fazendo da Grécia uma vacina contra qualquer desvio à austeridade ou se incentivará uma solução de compromisso" na União Europeia.

Na reacção, o primeiro-ministro recusou validade à interpretação feita pelo PS sobre as mais recentes decisões europeias e passou ao contra-ataque.

"Estamos esclarecidos. O PS entende que quem tem mais dívida deve endividar-se mais, quem tem mais desequilíbrios deve ter mais flexibilidade e quem precisa de ter mais dinheiro sendo devedor deve ter mais dinheiro. Essa é a lição moral socialista. Estamos esclarecidos sobre essa maneira de pensar", respondeu.

O líder parlamentar do PS diz que Passos ignora as mudanças ocorridas nas últimas semanas na Europa.

Para Ferro Rodrigues, Passos passou ao lado das novas regras de "flexibilização" da contabilização do défice em consequência de investimentos estruturantes, da decisão do Banco Central Europeu (BCE) de injectar liquidez comprando dívida pública e, por último, dos resultados das eleições gregas.

O líder da bancada socialista citou mesmo a ex-presidente do PSD Manuela Ferreira Leite, considerando que a "ortodoxia fanática financeira está a ser derrotada em todo o lado".

Já o primeiro-ministro lembrou que os socialistas quase desapareceram do mapa da política grega e que venceu um partido "da extrema-esquerda, equivalente ao nosso Bloco de Esquerda".

Passos Coelho elogiou o esforço feito pelos gregos nos últimos cinco anos, vincou que Portugal foi um dos países que contribuiu financeiramente para a Grécia e deixou um aviso: "É importante que a Grécia respeite os seus compromissos, cumpra as regras da União Europeia (como toda a gente) e possa ter sucesso".

Sucesso para o PS: "um novo resgate"
Passos Coelho rejeitou também que em 2014 tenha existido "overdose" fiscal em Portugal, disse ter dados objectivos que indicam que a consolidação orçamental no ano passado baseou-se em dois terços numa redução da despesa.

"Um sucesso para Ferro Rodrigues seria um novo resgate", disse.

Ferro afirmou que o primeiro-ministro apresenta uma versão da história recente orçamental portuguesa que é uma "história da carochinha", enquanto Passos Coelho contrapôs que a "lição moral" socialista é acrescentar dívida à dívida.

O chefe de Governo assumiu "um moderado optimismo" face ao futuro do país. Reclamou sucesso na estratégia de saneamento das contas públicas, destacando a execução orçamental de 2014, e afirmou que a austeridade perde "relevância" em Portugal, ao mesmo tempo que as políticas de crescimento e emprego ganham prioridade.

Ferro leu nas palavras de Passos "uma incontida euforia, que é absolutamente despropositada, porque revela irrealismo". "Esquece-se da 'overdose' fiscal sobre os portugueses em 2014, dos cortes ao investimento público e em prestações essenciais para os mais pobres e, por isso, trouxe-nos aqui um dos contos mais absurdos para crianças, trouxe-nos uma história da carochinha."