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Não pode haver "tratamento especial" para a Grécia

27 jan, 2015 • José Pedro Frazão

José Matos Correia, vice-presidente do PSD, considera que as promessas do novo primeiro-ministro grego não resolvem os problemas do país. O social-democrata debateu o resultado das eleições gregas com o antigo ministro socialista Vera Jardim, no "Falar Claro" da Renascença.

Não pode haver "tratamento especial" para a Grécia
Vice-presidente do PSD, José Matos Correia, considera que as promessas do novo primeiro-ministro grego não resolvem os problemas do país. O social-democrata debateu o resultado das eleições gregas com o antigo ministro socialista Vera Jardim, no programa "Falar Claro" da Renascença.

O vice-presidente do PSD, José Matos Correia, defende que o programa do novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, "não é concretizável".

O deputado social-democrata sustenta, no programa "Falar Claro" da Renascença, que "não se pode acabar com a austeridade porque queremos acabar com a austeridade".

"A Grécia tem um problema que só se pode resolver de uma maneira. Não com as promessas do senhor Tsipras, mas com a continuação do cumprimento de um conjunto de reformas estruturais que vinham agora começando a dar bons resultados. Pela primeira vez e ainda que marginalmente, a Grécia estava a crescer. Aquilo que o senhor Tsipras propõe é uma coisa simples: 'Eu não pago, os senhores deixam de receber'."

No entendimento de Matos Correia, que substituiu Nuno Morais Sarmento no programa "Falar Claro", o Syriza quer renegociar a dívida, incluindo um perdão de parte da dívida ("haircut").

"Os contribuintes dos outros países que lhes emprestaram dinheiro deixam de receber aquilo a que têm direito. Mas ao mesmo tempo, como continuam a precisar de financiamento internacional, continuam a financiá-los. Isto não existe. Sol na eira e chuva no nabal não existe", diz este membro da direcção social-democrata.

O socialista Vera Jardim, por seu lado, distingue as posições dos partidos que vão formar uma coligação de poder em Atenas. " Há uma diferença entre o Syriza e o outro partido - Gregos Independentes - sobre a dívida. O Syriza não diz que não paga. Diz que precisa de conversar com os seus parceiros europeus para poder pagar. É uma coisa diferente", assinala o antigo ministro da Justiça.

A razão dos resultados
O comentador socialista reconhece no Syriza uma "mensagem de esperança" que levou o povo grego, "já tão causticado por estes cinco anos de esforço, pobreza e de grande miséria, com um desemprego absolutamente inaceitável", a votar em partidos que lhe traziam alguma esperança.

"Sinceramente temo que essa esperança possa vir a ser frustrada no futuro", conclui o antigo deputado do PS.

Vera Jardim reconhece a derrocada do PASOK (o histórico partido dos socialistas gregos) e chama a atenção para a "desagregação dos sistemas partidários clássicos em alguns países da Europa. Felizmente em Portugal isso não se deu. Mas em Espanha e na França, por exemplo, o bipartidarismo clássico - de centro-esquerda e centro-direita e alguns partidos de franjas -  está em crise em vários países da Europa. Incluindo na própria Alemanha, embora de uma forma bastante menos visível".

Matos Correia considera politicamente "grave" que "quem vota nesse género de forças políticas vota mais contra qualquer coisa que em favor de qualquer coisa". O vice-presidente do PSD, partido congénere da Nova Democracia, anteriormente no poder, prevê que o governo do Syriza gere "uma lógica de conflitualidade entre as pessoas que votaram nele. Quem votou nele, votou contra alguma coisa, mas não em nome de um projecto politico no qual se identificava. Quando as opções começarem a ser feitas, haverá apoiantes do Syriza que estarão com elas, mas outros que ,por várias razões, deixarão de estar".

O caminho adiante
O social-democrata mostra-se formalmente contra um "tratamento especial" para a Grécia na zona euro.

"No dia em que houver tratamentos privilegiados para este ou para aquele país, acaba a zona euro. [Há que dizer] à Grécia que fez uma escolha democraticamente legítima que temos de respeitar. Mas a Grécia tem que respeitar também a democracia dos outros e não impor aos outros as suas próprias decisões."

Para Matos Correia, o "muito difícil ajustamento" na Grécia "foi exigido e determinado pelo facto de, no seu devido tempo, a Grécia não ter empreendido as reformas necessárias para ter uma economia sustentável".

Por seu lado, Vera Jardim vislumbra "uma margem muito, muito estreita de algum acordo europeu para ir ao encontro de algumas necessidades. Um programa social, por exemplo, seria necessário na Grécia. Isso não custa 12 mil milhões. A situação social na Grécia é um desastre completo".

O novo programa de estímulo económico lançado pelo Banco Central Europeu foi outro dos destaques do "Falar Claro" desta semana.