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Jardim esteve 13.451 dias a mandar na Madeira

12 jan, 2015 • Dina Soares (texto) e Conceição Sampaio (vídeo)

Chefiou 11 governos e conquistou 46 vitórias eleitorais. Só Khadafi, José Eduardo dos Santos e Fidel Castro lhe fazem sombra em matéria de longevidade política. Apresentou esta segunda-feira o pedido de demissão.

Jardim esteve 13.451 dias a mandar na Madeira
Trinta e seis anos, nove meses e 26 dias. Nem Salazar conseguiu chegar tão longe. Durante 13.451 dias, Alberto João Jardim foi o presidente do Governo Regional da Madeira. Só Khadafi, José Eduardo dos Santos e Fidel Castro lhe fazem sombra em matéria de longevidade política.

Jardim, que entregou esta segunda-feira o pedido de demissão de presidente do Governo Regional, chegou à Quinta Vigia a 17 de Março de 1978, por decisão do PSD – partido que ajudou a fundar – para substituir Jaime Ornelas Camacho. Era, então, director do "Jornal da Madeira", designado pelo bispo da diocese, e deputado da Assembleia Regional, eleito pelo PSD.

Desde então, chefiou 11 governos, todos com o apoio da maioria absoluta dos deputados. Conquistou 46 vitórias eleitorais, entre regionais, autárquicas e europeias.

Para trás ficava uma curta mas movimentada carreira profissional durante a qual foi professor do ensino secundário, director do Centro de Formação Profissional da Madeira, jornalista e director do "Jornal da Madeira". Apesar de ter mantido uma ligação estreita com a comunicação social, como colaborador em diversas publicações, sempre fez gala em alimentar uma relação difícil com a imprensa – sobretudo do continente, que designa amiúde de "bastardos" ao serviço dos mais diversos interesses, desde o "lóbi gay" à Maçonaria.

Os grandes "inimigos" da Madeira têm sido, no entanto, e invariavelmente, os políticos da oposição. Mário Soares, António Guterres e Jaime Gama foram alvos a abater durante os tempos polémicos do "défice democrático". José Sócrates – sempre identificado como "o senhor Pinto de Sousa" – era frequentemente presenteado com acusações de narcisismo e orgulho excessivo, um líder que "num país normal já estaria no olho da rua". Paulo Portas é outro dos políticos frequentemente insultado por Jardim, que lhe chama "fariseu" e "submarino".

A sua relação com o próprio partido não tem sido, no entanto, mais fácil. Em Agosto de 2008, descontente com o PSD nacional, proclamou a intenção de criar o Partido Social Federalista. Cavaco Silva – a quem se referia como "o senhor Silva" – foi mesmo desafiado a abandonar o partido. Pedro Passos Coelho também não teve vida fácil.

Assumindo, alternadamente, posturas patrióticas, independentistas e federalistas, quer a nível nacional, quer europeu, ameaçou muitas vezes bater com a porta, quase tantas vezes quantas as que prometeu não se recandidatar. Acabou sempre por ficar, mesmo depois de, em 2011, ter sofrido um enfarte que o obrigou a afastar-se por um tempo. Mesmo depois de, nas últimas autárquicas, ter perdido sete dos 11 concelhos que governava, um resultado que deu força à oposição interna agora vencedora na luta pela liderança do partido.

O seu actual mandato só terminava em Outubro de 2015 e tudo indicava que o iria cumprir. Só que a contestação interna foi mais forte e, a 29 de Dezembro de 2014, Miguel Albuquerque, seu antigo delfim, sucedeu-lhe na liderança do PSD Madeira. Pede agora eleições antecipadas, na esperança de lhe suceder, também, na liderança do governo regional.

Aos madeirenses, Alberto João Jardim deixa muitas infra-estruturas, mas também uma dívida pública regional superior a seis mil milhões de euros e um duplo programa de ajustamento.

Deixa também memórias mais ligeiras, feitas de enormes charutos e copos de poncha, passeios em fato de banho à beira mar, folclore e desfiles carnavalescos, disfarçado de rei Zulu, Vasco da Gama ou Romeu.