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"A violação é um instrumento de guerra", alerta vencedor do prémio Sakharov

26 nov, 2014 • Filipe Avillez, em Estrasburgo

Denis Mukwege fundou um hospital para cuidar de vítimas de violação na República Democrática do Congo.

"A violação é um instrumento de guerra", alerta vencedor do prémio Sakharov
O prémio Sakharov foi entregue esta quarta-feira ao congolês Denis Mukwege, um ginecologista que trabalha com mulheres vítimas de violação na República Democrática do Congo, o país com pior índice deste crime no mundo.

No seu discurso, o médico explicou que as mulheres são usadas como uma arma de guerra, razão que o inspira a continuar a levantar a voz contra esta prática, apesar das ameaças a que já foi sujeito por parte dos senhores da guerra. "A região onde vivo é das mais ricas do mundo. Contudo, a grande maioria das pessoas vive na extrema pobreza, devido à violência e ao desgoverno. Os corpos das mulheres foram transformados em verdadeiros campos de batalha e a violação é um instrumento de guerra”.

“Em cada mulher violada eu vejo a minha mulher, em cada mãe violada eu vejo a minha mãe, em cada criança violada eu vejo os meus filhos", disse o médico ao receber o prémio, durante a sessão plenária do Parlamento Europeu.

O prémio Sakharov para a liberdade de pensamento, no valor de 50 mil euros, é atribuído pelo Parlamento Europeu a pessoas que se destacaram na luta pelos direitos humanos e pela liberdade no mundo.

Este médico, de 59 anos, já foi várias vezes nomeado para o Nobel da Paz, sendo responsável pela fundação de um hospital para cuidar de vítimas de violação. Em Outubro de 2012, foi alvo de uma tentativa de homicídio.

Na corrida ao prémio estava o movimento Euromaidan, que promoveu as manifestações na praça vermelha em Kiev e a activista Leyla Yunus, que defende os direitos das minorias étnicas no Azerbaijão.

O Euromaidan (movimento de contestação lançado na Praça da Independência em Kiev, em Novembro de 2013, que derrubou o Presidente ucraniano Viktor Yanukovich) recebeu uma menção especial.

Em 2013, o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento foi atribuído à jovem paquistanesa Malala Yousafzai, prémio Nobel da Paz deste ano.