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Conselho de Directores

Pedro Santos Guerreiro: "O padrão de um poder corrompido”

23 nov, 2014 • Pedro Rios

Detenção de Sócrates, caso "gold", BES. Na Renascença, o director executivo do Expresso antecipou um "efeito monumental sobre o regime". "Vai explodir, implodir ou conservar-se"?

Pedro Santos Guerreiro: "O padrão de um poder corrompido”
Isto aconteceu numa só semana: o início da comissão BES; o escândalo dos vistos dourados; a demissão do ministro da Administração Interna; duas empresas, a Galp e a REN, que não pagam todos os impostos devidos; as subvenções vitalícias dos políticos quase regressam; e, cereja no topo de um bolo alucinante, José Sócrates é detido.

“São sintomas de um regime que ainda não percebi se vai explodir, implodir ou conservar-se”, afirmou Pedro Santos Guerreiro, director executivo do “Expresso”, no Conselho de Directores especial sobre a detenção do ex-primeiro-ministro que a Renascença emitiu este domingo.

“Espero que não se conserve. Porque estamos a detectar o padrão de um poder corrompido que está a ser posto em causa”, diz o jornalista.

Antecipa um “efeito monumental sobre o regime”. “Não está só em causa José Sócrates. Não podemos relativizar o que está a acontecer. Nem é sequer só o PS que está em causa – e a forma como o PS está a tentar digerir, acomodar, reagir… Pode ser mesmo o regime.”

A directora de informação da Renascença, Graça Franco, teme uma eventual “desagregação” do edifício político português, terreno fértil para “populismos”. “Podem aparecer casos como o [espanhol] Podemos”, diz Santos Guerreiro.

"Revanchismo antipolítico?"
Da política à justiça, os participantes neste Conselho de Directores especial lamentaram a “devassa e o circo mediático” (Santos Guerreiro), o “espectáculo triste” de uma detenção televisionada (Graça Franco) e o “exibicionismo” do Ministério Público (Marina Pimentel, jornalista da Renascença especializada em justiça).

A “judicialização da política” ou a “politicização da justiça” não é de agora, diz Graça Franco, para quem deveria ser “absolutamente impossível permitir uma fuga de informação num processo como esta”.

“Ao fim de 40 horas”, a justiça ainda não deu “três ou quatro parágrafos” que permitam não ser “injustos” com a “comunidade”, a “justiça“ ou o “cidadão José Sócrates”.

Henrique Monteiro, director editorial do Grupo Impresa: “Estamos a caminhar no sentido de a justiça melhorar e haver menos impunidade ou estamos a caminhar no sentido em que a justiça está a exagerar e a fazer coisas para além do que lhe é pedido”, alinhando numa “espécie de revanchismo antipolítico?”

Como fica o regime? Para Pedro Santos Guerreiro, tudo dependerá das “instituições”: justiça, política e comunicação social. “São elas que têm que superar as falhas humanas das pessoas que desempenham os cargos em determinado momento”.

Para já, diz Henrique Monteiro, “todos os partidos reagiram bem”, mesmo o PS, que “tinha a tarefa mais difícil”. O jornalista acredita mesmo que os socialistas podem ser beneficiados: seja ou não acusado e condenado, Sócrates deixa de ser um “fantasma” a pairar sobre o partido e o seu novo líder, António Costa.

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