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"Um queijo francês com buracos muito grandes": eis o relatório sobre compras de material militar

03 out, 2014

Socialista José Magalhães recorre à metáfora para dar voz às críticas. PS, PCP e BE criticaram as conclusões do relatório preliminar sobre as compras de submarinos e blindados, que conclui não existirem quaisquer ilegalidades no processo.

Já há reacções, muitas delas críticas, ao relatório preliminar da comissão parlamentar de inquérito às compras de material militar por Portugal que conclui não existir "qualquer prova" ou "indício" de ilegalidades por parte dos "decisores políticos e militares nos concursos".

O deputado do PS José Magalhães comparou o relatório a "um queijo francês com buracos muito grandes". "Muitas perguntas estão neste momento sem resposta e deviam ter tido resposta nesta comissão, é precipitado e errado tentar abortar os seus resultados", declarou aos jornalistas.

O socialista destacou dezenas de documentos pedidos que não chegaram à comissão e a falta de esclarecimento se houve ou não "encontros secretos" entre Paulo Portas e "o fornecedor alemão no Guincho".

Mais: além dos nomes que já chegaram de "cinco beneficiários da família Espírito Santo, falta o sexto homem, o sexto beneficiário", disse Magalhães.

"Farsa chega ao ponto do ridículo"
Também o PCP reagiu com críticas ao PSD e CDS-PP e garantiu o voto contra dos comunistas ao "embuste" apresentado.

"Estas conclusões são uma completa farsa promovida pelo PSD e CDS-PP para ilibar o Governo e as responsabilidades políticas que persistem neste processo e nesta nebulosa", afirmou o deputado do PCP Jorge Machado, aos jornalistas, no Parlamento.

Aliás, continuou, a "farsa chega ao ponto do ridículo" quando PSD e CDS-PP "apressadamente e como o diabo foge da cruz querem acabar com a comissão" ao mesmo tempo que a comunicação social dá conta de novos desenvolvimentos relativamente à família Espírito Santo e ao seu envolvimento no processo das contrapartidas.

Ainda nas bancadas de esquerda, o coordenador do Bloco João Semedo considerou o documento pouco sério, acusando a maioria de apenas procurar proteger Durão Barroso e Paulo Portas.

Reiterando a ideia de que a comissão de inquérito funcionou como "uma rapidinha" e que desde o início se percebeu que PSD e CDS-PP queriam impedir o esclarecimento, o coordenador do BE sublinhou que há questões por responder: se houve ou não favorecimento de um fabricante alemão e se houve ou não favorecimento do BES.

Depois de terem sido condenados os corruptores na Alemanha, continua sem se saber quem foram os "corrompidos" em Portugal, lamentou Semedo. 

Nada por responder
A relatora do relatório, a deputada do PSD Mónica Ferro, diz que "nenhuma pergunta ficou por fazer e nenhuma resposta ficou por dar". E acrescenta: "na minha opinião pessoal, não perguntaram o que não quiseram”.

Perante as críticas da oposição, o CDS-PP também não ficou calado. "Tem mais de 400 páginas, portanto sugeria à oposição que, antes de emitir opiniões dessa natureza, se desse ao trabalho de o ler. Parece-me que seria boa ideia", ironizou a deputada Cecília Meireles.

Disse ainda, relativamente às dúvidas levantadas pelos outros partidos, que “nem as reuniões são secretas, nem terão sido agradáveis para o concorrente alemão porque Paulo Portas, coisa que os ministros do PS nunca tinham feito, lhe exigiu garantias de cumprimento das metas na construção dos submarinos. Ninguém negou a existência da reunião ou a escondeu".