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A "prova de fraqueza" de Cameron

01 ago, 2014 • José Pedro Frazão

Ideia é defendida por Santana Lopes no programa Fora da Caixa, da Renascença, em que debate com António Vitorino os impactos das mexidas no Governo britânico, a um ano de eleições gerais.

A "prova de fraqueza" de Cameron
Ideia é defendida por Santana Lopes no programa Fora da Caixa da Renascença. O ex-primeiro-ministro debate com o antigo comissário europeu António Vitorino os impactos das mexidas no Governo britânico, a um ano de eleições gerais.

A entrada no executivo britânico de ministros e secretários de Estado descritos como mais eurocépticos preocupa António Vitorino.

“Sabendo que um dos temas centrais das eleições do próximo ano será a redefinição do estatuto do Reino Unido face à União Europeia, há um reforço dos ministros que têm orientação marcadamente eurocéptica. A começar no novo ministro dos Negócios Estrangeiros, que vem da Defesa. O que é um percurso muito comum, como os jogadores de râguebi que passam a jogar futebol“, ironiza Vitorino, no programa Fora da Caixa, da Renascença, ao comentar o perfil menos europeísta de Philippe Hammond, o sucessor de William Hague.

Santana Lopes é ele próprio um céptico em relação aos efeitos positivos desta remodelação governativa.

“Cameron tem muito a preocupação de mostrar a prova de que é coerente ou congruente entre as palavras, os actos e as consequências. Há uma linha condutora. Desespero face ao avanço do UKIP? É um pouco. Não é muito bom [adoptar] uma linha tão marcada nesta remodelação. Posso estar enganado. Não acho que o vá compensar muito. Ou tem que seguir uma linha que vai ser mesmo de alguma colisão com o rumo que a Europa tem que traçar nos próximos anos, para isto fazer sentido”, analisa o antigo primeiro-ministro.

O despique Londres-Bruxelas
Neste esticar de corda que já começou com a discussão prévia à eleição de Jean-Claude Juncker como presidente da Comissão Europeia, Cameron pode querer capitalizar sobretudo internamente.

O partido UKIP, defensor da saída do Reino Unido da União Europeia, venceu as eleições europeias e as legislativas são já em 2015.

“Se ele continuar a bater o pé deste modo em relação à Europa e se as candidaturas dos partidos emergentes não se afirmarem nos seus círculos eleitorais mais generosos, Cameron pode segurar e não ter que abrir o jogo. Mas se há ventania e o Inverno é chuvoso, não sei. Para mim, esta remodelação é uma prova de fraqueza de Cameron e não de solidez”, atira Santana Lopes.

António Vitorino tem outras dúvidas. “Por muito que haja boa vontade em muitos países europeus continentais para com os pedidos do Reino Unido, não haverá resposta suficientemente cabal até às eleições de Maio do ano que vem no Reino Unido. Não há tempo. Responder sim a vários pedidos do Reino Unido significa abrir várias frentes dentro dos países continentais. Para quê fazê-lo antes de saber se o senhor Cameron ganha as eleições?”, sugere o antigo comissário europeu.

No meio do “vendaval” eurocéptico no Reino Unido, o Partido Trabalhista parece não conseguir capitalizar descontentamentos. Mas a esquerda pode ter o vento a seu favor nos próximos tempos na Europa, admite Santana Lopes.
 
“Há a chegada de novos protagonistas – não só pela sua ideologia – por serem novas caras, novos rostos. Não quer dizer que tenham que ser todos novos Neymar, como defendia o António Vitorino noutro dia. Há uns que podem parecer mais velhos e são bons, como Robben, da Holanda, que jogam muito. Tudo isso ajuda. A alternância e o facto da mesma força politica estar muito tempo no poder, nomeadamente à direita, em situações de profunda crise económica, abre a janela a esses posicionamentos e ao reforço dessas famílias politicas”, remata.

O Fora da Caixa, que pode ouvir à sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a EURANET PLUS, rede europeia de rádios.