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Clima político "não é perigoso, é perigosíssimo"

03 jul, 2014

Antigo ministro Marçal Grilo ficou "triste" com o debate do Estado da Nação, não acredita em consensos até às legislativas e diz que o Conselho de Estado desta quinta-feira não deve ir além de um “voto pio”.

Clima político "não é perigoso, é perigosíssimo"
Eduardo Marçal Grilo, antigo ministro da Educação e actual administrador da Gulbenkian, ficou triste com o debate do Estado da Nação, não acredita em consensos até às legislativas e diz que o Conselho de Estado desta quinta-feira não deve ir além de um “voto pio”.

O clima político em Portugal “não é perigoso, é perigosíssimo”, alerta o antigo ministro da Educação Eduardo Marçal Grilo, em entrevista à Renascença

Marçal Grilo ficou “particularmente triste” com o tom do debate do Estado da Nação, desta quarta-feira, que comparou a “uma peça de teatro de má qualidade, com actores secundários”.

“A minha tristeza é que, num quadro tão difícil como o país tem e com um futuro imprevisível, o debate está cheio de picardias e de graças algumas sem graça nenhuma. Uma pessoa que esteja numa situação difícil e que olhe para aquele debate à espera de encontrar qualquer resposta aos seus problemas fica desesperado, irritado ou desliga o aparelho e diz que com esta gente não me entendo”, diz o administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

Para Marçal Grilo, o clima político “não é perigoso, é perigosíssimo”, uma situação preocupante na medida em que os políticos “têm um poder em relação ao andamento dos negócios da vida pública que pode influenciar de forma muito negativa o nosso futuro colectivo”.

Consenso político? "Não vejo como seja possível"
O Presidente da República, Cavaco Silva, tem “insistido muito” na necessidade de convergência e consensos, mas Marçal Grilo não vê “como seja possível”.

“Perante o debate de hoje [quarta-feira] e o que se está a passar no PS, não creio que possamos ter condições para uma negociação entre partidos e forças da sociedade civil antes das eleições legislativas”, afirma.

Marçal Grilo espera que haja “algum senso” após as legislativas e que as lideranças dos principais partidos “sejam capazes de se entender quanto ao futuro, porque estão em causa coisas muito sérias.”

Em relação ao Conselho de Estado convocado por Cavaco Silva para esta quinta-feira, o antigo ministro não tem grandes expectativas.

“O Presidente está numa situação que não é fácil. O Presidente fez há um ano aquela grande tentativa de oferecer eleições antecipadas em troca de um acordo entre os três partidos do arco do poder. Essa tentativa falhou, hoje em dia as condições são diferentes, designadamente a situação interna do PS, portanto, não me parece que o Conselho de Estado possa ir muito além de uma espécie de voto pio relativamente a qualquer apelo que faça em relação aos partidos para se entenderem”, sublinha.

Nesta entrevista à Renascença, Marçal Grilo falou também de Educação, de emigração e do falhanço das elites políticas portuguesas.