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Manifestantes interrompem sessão no Parlamento para exigir demissão do Governo

11 jul, 2013 • Filipe d'Avillez e Susana Madureira Martins

"Não fomos eleitos para ter medo", reagiu a presidente da Assembleia da República. "Teremos provavelmente de reconsiderar as regras de acesso às galerias", acrescentou Assunção Esteves, que citou ainda Simone de Beauvoir. "Não podemos permitir que os nossos carrascos nos criem maus costumes."

Manifestantes interrompem sessão no Parlamento para exigir demissão do Governo
Os trabalhos na Assembleia da República foram interrompidos esta quinta-feira durante largos minutos devido a protestos dos populares que se encontravam nas galerias. Dezenas de pessoas, muitas das quais pertencentes a sindicatos da função pública, começaram a gritar: “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”, e “demissão”. Quando a situação acalmou, Assunção Esteves afirmou aos deputados: “Não fomos eleitos para não sermos respeitados”.

Os trabalhos na Assembleia da República foram interrompidos esta quinta-feira durante largos minutos devido a protestos de populares que se encontravam nas galerias. Os manifestantes contestaram as novas medidas para os trabalhadores do Estado e pediram a demissão do Governo.

Dezenas de pessoas, muitas das quais pertencentes a sindicatos da função pública, começaram por proferir "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais" e "demissão". Enquanto diziam as palavras de ordem, os manifestantes lançavam também balões e papéis recortados com frases como "não às 40 horas semanais", "pelo emprego com direitos", "contra a corrupção e o enriquecimento fácil" e "em defesa dos serviços públicos".

Assunção Esteves ordenou às autoridades que removessem os manifestantes, que, apesar de não terem resistido, nunca deixaram de proferir as frases de protesto. Instantes depois, o espaço ficou totalmente vazio na sequência da intervenção da polícia.

"Nós não fomos eleitos para ter medo, para sermos coagidos e, provavelmente, também não fomos eleitos para não sermos respeitados", afirmou a presidente do Parlamento quando a situação acalmou. "Teremos provavelmente de reconsiderar as regras de acesso às galerias", acrescentou Assunção Esteves.

Por entre aplausos dos deputados da maioria, Assunção Esteves citou posteriormente uma frase da ensaísta francesa Simone de Beauvoir sobre a opressão nazi em França durante a II Guerra Mundial: "Não podemos permitir que os nossos carrascos nos criem maus costumes".

Os membros dos sindicatos estariam nas galerias para assistir a um debate parlamentar que contou com a presença do secretário de Estado da Função Pública, Hélder Rosalino. Na altura dos distúrbios estava a usar da palavra o secretário de Estado da Energia, Artur Trindade.

Este protesto surge em plena crise política. Numa declaração ao país proferida quarta-feira à noite, Cavaco Silva propôs eleições legislativas imediatamente a seguir ao fim do programa de assistência financeira, em Junho de 2014. O Presidente da República sugeriu ainda um entendimento de médio prazo entre os três partidos que assinaram o memorando da "troika" - PSD, CDS e PS -, num "compromisso de salvação nacional".

A crise política começou com a demissão do ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar, a 1 de Julho. No dia seguinte, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, também se demitiu, pedido que não foi aceite por Passos Coelho.

Após a crise causada pelas demissões, o primeiro-ministro e o líder do CDS negociaram uma nova solução governativa. Paulo Portas recuou na demissão e passou a vice-primeiro-ministro. Esta solução foi apresentada a Cavaco Silva, que reuniu posteriormente com os partidos e parceiros sociais. A decisão do chefe de Estado relativamente à crise política foi conhecida na noite de quarta-feira.

[notícia actualizada às 18h59]