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CDS não aceita demissão dos seus ministros e manda Portas negociar

03 jul, 2013 • Carlos Calaveiras

Comissão executiva esteve reunida para analisar as consequências da demissão do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros. Partido quer que se encontrem soluções para a crise governativa.

CDS não aceita demissão dos seus ministros e manda Portas negociar
Comissão executiva esteve reunida para analisar as consequências da demissão do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros. Partido quer que se encontrem soluções para a crise governativa.

Apesar de os ministros Pedro Mota Soares e Assunção Cristas terem colocado os seus lugares à disposição, o CDS decidiu que ambos devem manter-se no Governo. O presidente da mesa do congresso do partido, Luis Queiró, anunciou ainda esta quarta-feira que Paulo Portas vai reunir-se com Pedro Passos Coelho e com o PSD para encontrar uma solução viável para o Governo de coligação.

A comissão executiva do CDS, que esteve reunida para analisar a crise gerada pela demissão de Paulo Portas, decidiu manter a realização do próximo congresso do partido, marcado para este fim-de-semana, na Póvoa de Varzim. A declaração de Luis Queiró foi curtíssima e ficou-se pelo anúncio destes três pontos: a demissão dos ministros não foi aceite, Portas tem de negociar e o congresso é para realizar.

A crise política em Portugal começou com a demissão do ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar, na segunda-feira. No dia seguinte, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros também se demitiu. Paulo Portas, que tinha subido a número 2 da hierarquia do Governo com a saída de Vítor Gaspar, anunciou que discordava da escolha de Maria Luís Albuquerque para ministra das Finanças, por considerar que se trata de uma opção de "continuidade". O líder do CDS disse que pretendia um caminho "diferente".

"Expressei atempadamente este ponto de vista ao primeiro-ministro, que, ainda assim, confirmou a sua escolha. Em consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível", justificou Paulo Portas em comunicado.
 
Quase no fim do texto, o líder do CDS não escondeu o mal-estar entre os parceiros de coligação. "Ao longo destes dois anos protegi até ao limite das minhas forças o valor da estabilidade. Porém, a forma como, reiteradamente, as decisões são tomadas no Governo torna, efectivamente, dispensável o meu contributo."

Na resposta, e durante uma declaração ao país, Passos Coelho afirmou que não estava à espera desta decisão de Paulo Portas. "Eu próprio tenho de manifestar a minha surpresa. Quando propus ao Presidente da República a ministra das Finanças e os seus secretários de Estado, que incluem um membro do CDS e que tinha sido confirmado pelo Dr. Paulo Portas, os acontecimentos eram evidentemente impensáveis."

O primeiro-ministro revelou ainda que não aceitou a demissão de Paulo Portas, motivo pelo qual não apresentou a Cavaco Silva a exoneração do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros. "Numa democracia madura, um Governo de coligação que goza do apoio de uma forte maioria dos representantes do povo não pode ser posto em causa a não ser por divergências de enorme gravidade."

Esta quarta-feira, um jornalista estrangeiro perguntou a Passos Coelho, em Berlim, se o primeiro-ministro português se demite caso o CDS deixe o Governo. "Não me demito porque não tenho razões para me demitir", respondeu o governante português.

Depois da demissão de Paulo Portas, que sublinhou que a sua decisão era "irrevogável", os ministros do CDS no Governo colocaram igualmente os seus lugares à disposição. Assunção Cristas (Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território) e Mota Soares (Solidariedade e Segurança Social) vão manter-se nos cargos por decisão do partido. Já Paulo Portas está mandatado para negociar.