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Fontes comunitárias estranham colagem de Gaspar à Grécia

27 nov, 2012 • Daniel Rosário, em Bruxelas

Ministro das Finanças afirmou, a propósito do acordo alcançado no Eurogrupo sobre as condições de financiamento à Grécia, que Portugal e Irlanda vão beneficiar do princípio de igualdade de tratamento. Afirmação foi recebida em Bruxelas com algum espanto.

Fontes europeias ouvidas pela Renascença estranham as declarações que o ministro Vítor Gaspar proferiu esta terça-feira sobre a Grécia e garantem que Portugal nada tem a ganhar com uma colagem à situação grega. As mesmas fontes acrescentam que, durante a reunião de segunda-feira em Bruxelas, o ministro português das Finanças permaneceu em silêncio.

Vítor Gaspar não usou da palavra no decorrer da reunião do Eurogrupo, em que foi discutida e aprovada a suavização de condições de pagamento da dívida grega, algumas das quais podem ser aplicadas a Portugal. Esta terça-feira, no Parlamento, o ministro disse que "Portugal e Irlanda, de acordo com o princípio de igualdade de tratamento, serão beneficiados pelas condições abertas [à Grécia] no quadro do mecanismo europeu de estabilidade financeira". Estas declarações não passaram despercebidas em alguns sectores europeus.

Ainda que o presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, tenha afirmado que Lisboa e Dublin devem receber condições de tratamento iguais às de Atenas, há quem pense que estes países não ganham nada em colar-se à Grécia e há quem veja com estranheza o discurso de Vítor Gaspar.

Fontes que acompanharam o desenrolar da reunião do Eurogrupo sublinham que as medidas aprovadas foram desenhadas a pensar na Grécia, cujo caso não é comparável com Portugal ou Irlanda. Segundo estas fontes ouvidas pela Renascença, estes países construíram um discurso de distanciamento em relação à Grécia, facto que reforçou a posição de ambos aos olhos dos mercados, e questionam que impacto poderia ter nessa percepção o facto de Portugal solicitar a aplicação das mesmas facilidades concedidas agora a Atenas.

Esta visão é reforçada pela reacção do ministro irlandês das Finanças, que foi rápido a declarar que o pacote aprovado para a Grécia não é transponível para o seu país e que a Irlanda negoceia as suas condições à parte.