Tempo
|

Crise Migrações

Santana apela a Juncker que se "afirme pela liderança “ e visite países atingidos

30 ago, 2015

Falta coragem aos políticos europeus, acusa António Vitorino. Os comentadores do Fora da Caixa criticam a inacção das lideranças na Europa e elogiam a resposta de Angela Merkel na Alemanha, face à entrada massiva de migrantes e refugiados.

Santana apela a Juncker que se "afirme pela liderança “ e visite países atingidos
Falta coragem aos políticos europeus, acusa António Vitorino. Os comentadores do Fora da Caixa criticam a inacção das lideranças na Europa e elogiam a resposta de Angela Merkel na Alemanha, face à entrada massiva de migrantes e refugiados.

Juncker tem que se mexer nesta crise: “Espero que não esteja ninguém de férias numa altura como esta”. Santana Lopes confessa-se impressionado com a ausência de iniciativas políticas ao nível de uma crise humanitária sem precedentes na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Opinião deixada no programa “Fora da Caixa” em que se debatem temas europeus às sextas-feiras na Edição da Noite, da Renascença.

“O presidente da Comissão tem que se afirmar num momento como este  pelo exemplo da liderança, das propostas concretas, substanciais. Tem que se deslocar, visitar os países mais reticentes e os mais atingidos pelo que se está a passar”, insiste Santana Lopes. O antigo primeiro-ministro diz que não há “sinais públicos” de encontros multilaterais ao mais alto nível na Europa, com excepção da Alta Representante para a Política Externa, Federica Mogherini.

E Merkel, acrescenta Santana, tem-se “revelado” com as posições que tem tomado em relação aos extremismo e à xenofobia. “E sabe como ela foi criticada em relação à suspensão do acordo de Dublin…”

António Vitorino concorda, sublinhando que a Alemanha tem sido muito visada como país de destino destes migrantes. “800 mil pessoas são 1 % da população alemã que chega à Alemanha num dia. Nesse aspecto, estou totalmente de acordo com o Pedro Santana Lopes. A posição da chanceler Merkel tem sido de uma grande coragem, de uma grande firmeza. O que prova que o que está em falta na política europeia é gente com coragem”, acusa o antigo comissário europeu.

Alemanha, “ilha" de refugiados
A chanceler alemã tem feito esforços para construir uma resposta europeia ao problema. Mas, sublinha Vitorino, há grande resistência dos países da Europa Central e de Leste , como a Polónia, Eslováquia e Republica Checa.

"Os números mostram que a maioria dos refugiados pedem asilo na Alemanha, Suécia, na própria França. O que significa que os países mais expostos geograficamente, ao considerarem-se punidos pelo regulamento de Dublin, não estão a cumprir todas as obrigações no âmbito do regulamento de Dublin”, argumenta Vitorino, numa referência à legislação que estabelece que os países de primeira entrada são os que que têm de decidir se dão ou não asilo aos migrantes.

O antigo comissário europeu elogia a coragem de Merkel ao suspender a aplicação do regulamento de Dublin, evitando reenviar pessoas para a Itália ou para a Grécia.

“É óbvio que elas não chegaram de paraquedas. Tiveram que passar por outro país da União Europeia dado que a Alemanha é um país rodeado de países da União Europeia por todos os lados”,acentua o comentador que, como antigo comissário com a tutela da imigração, admite que o regulamento de Dublin pode funcionar se houver um sistema único de asilo na União Europeia.

“Se houver aquilo a que os especialistas chamam de “asylum shopping” - andar à procura dos países onde é mais provável e mais fácil obter asilo - nada pára. Portanto é preciso haver um sistema único , com prazos de apreciação dos pedidos iguais. Obviamente há aqui um efeito que não controlamos, o chamado “efeito de chamada”. Ou seja, um kosovar ou um eritreu não tem grande apetência para vir para Portugal porque terá tendência para ir para países onde já há comunidades kosovares e eritreias para o acolhimento”, diz António Vitorino no programa “Fora da Caixa”, onde defendeu ainda que a União Europeia tem que apoiar os países dos Balcãs para que essas nações possa acolher esses refugiados.

Santana Lopes remata com uma nota sobre a resposta das instituições alemãs às reacções violentas e extremistas a este movimento migratório que atinge a Alemanha.

"Pode parecer contraditório com o que aconteceu nalguns casos, nalguns momentos da história da Alemanha mas acho que estas posições que a chanceler Merkel tem assumido são demonstrativas de uma forte consciência colectiva no sentido do humanismo, do personalismo, da rejeição das derivas totalitárias e dos pensamentos castradores da liberdade”, conclui o antigo primeiro-ministro.