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Euclid Tsakalotos

O cavalheiro esquerdista que sucede a Varoufakis

06 jul, 2015 • Filipe d’Avillez

O novo ministro das Finanças da Grécia já foi descrito como o oposto, em termos de estilo, de Varoufakis. Mas o pensamento é comum e a missão também.

O cavalheiro esquerdista que sucede a Varoufakis
A Presidência grega já anunciou que o novo ministro das Finanças será Euclid Tsakalotos, que até ao momento era um dos principais negociadores da equipa de Varoufakis.

Embora os dois homens tenham ideias comuns sobre economia e finanças, Tsakalotos já foi descrito como o oposto de Varoufakis em termos de estilo e forma.

Nascido numa família abastada, do negócio da navegação, Tsakalotos cresceu entre a Holanda e o Reino Unido. Estudou num colégio privado inglês e daí seguiu para Oxford, o que lhe concedeu um inglês imaculado e com sotaque sofisticado.

"Fala a língua melhor que eles. Chega a ser engraçado observar", comentou um membro do Syriza, em declarações ao jornal inglês "The Guardian", sobre os diálogos entre o novo ministro e os representantes dos credores.

Foi em Oxford que Tsakalotos abraçou a esquerda política. De regresso à Grécia, filiou-se no Synaspismos, o partido que serviu de base para a criação do Syriza. Diz-se motivado pelo facto de representar grande parte da sociedade grega que não se sente representada pelas elites económicas e centros de decisão, mas também por um sentimento de injustiça que data da II Guerra Mundial.

"Fomos a única nação onde as pessoas que participaram naquele que foi um importante movimento de resistência acabaram por ser tratados como parasitas, enquanto os que tinham colaborado com os alemães levavam uma vida boa. Não estava certo", afirma, em declarações reproduzidas pelo mesmo jornal.

Tsakalotis é autor de vários livros, incluindo um recente, publicado em 2012, que se chama "Cadinho de Resistência: A Grécia, a Zona Euro e a Crise Económica Mundial", onde argumenta que a Grécia, ao contrário da imagem prevalecente, não era um país atrasado economicamente e que foi vítima da crise financeira mundial. E acrescenta: a verdadeira crise que se vive é de democracia na Europa.

Em discursos mais recentes tem dito que o que os gregos querem é ser tratados como iguais numa europa de iguais.

A filiação partidária não tem impedido o novo ministro de criticar o seu próprio Governo. O Syriza tem cometido erros, admite, que podem ser atribuídos a inexperiência, mas também tem aprendido com esses erros. Ao contrário de alguns elementos mais radicais do partido, Tsakalotis nunca defendeu a saída do euro como caminho de futuro para o seu país.

O homem que pensa como um esquerdista, mas que se veste e fala como um distinto membro das elites financeiras e culturais da Europa, tem agora a missão de chegar a um acordo que possa salvar a Grécia e manter o país no euro.