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O "não" ganhou na Grécia. E agora?

06 jul, 2015 • Ricardo Vieira

Depois do "cartão vermelho" ao acordo com os credores internacionais mostrado pelos eleitores gregos, os próximos dias vão ser decisivos para o futuro da Grécia e da Europa.

O "não" ganhou na Grécia. E agora?

Os gregos querem respirar depois de cinco anos de austeridade e deram a vitória ao “não” no referendo deste domingo. A odisseia de um povo prossegue nos próximos dias.

O resultado da consulta popular foi um triunfo para o Governo liderado pelo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, e para o seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis.

Tsipras e Varoufakis pediram um “cartão vermelho” à proposta de acordo com os credores internacionais no referendo deste domingo para reforçar a posição de Atenas nas negociações que se vão seguir.

Eles pediram e os eleitores fizeram a vontade. O “não” venceu com 61,3% dos votos, contra 38,7% dos apoiantes do “sim”. A afluência às urnas foi superior a 62%.

O desfecho da consulta popular e o resultado claro contrariam as sondagens do dia do referendo, que apontavam para uma vitória por curta margem do “oxi” (não em grego) sobre o “nai” (sim em grego), ou para os estudos de sexta-feira que falavam em empate técnico.

Dias de incerteza pela frente
O choque com a realidade vai acontecer já esta segunda-feira. Os bancos helénicos vão para a segunda semana de portas fechadas, depois de o Banco Central Europeu ter cortado o financiamento de emergência, e os levantamentos por multibanco limitados a 60 euros.

O Governo já disse que quer um acordo com os credores o mais rapidamente possível, para que a Grécia possa ter financiamento e regressar à normalidade.

Para terça-feira, estão marcadas reuniões dos ministros das Finanças do Eurogrupo e uma cimeira extraordinária de chefes de Estado e Governo a zona euro.

Mas negociações já começaram, por telefone e nos bastidores. A chanceler alemã, Angela Merkel, falou com o presidente francês, François Hollande. Da conversa transpirou apenas que é preciso respeitar a vontade do povo grego.

Os dois líderes acertam agulhas esta segunda-feira. Merkel tem encontro marcado com Hollande, em Paris, para decidirem o futuro da Grécia e da Europa.

O primeiro-ministro grego também já ligou este domingo ao presidente francês, mas nada se sabe da conversa. Numa declaração aos gregos, Tsipras disse que a Europa não pode “ignorar a vontade de um povo”, mas foi avisando que não há soluções fáceis.

Dentro ou fora do euro
O Governo grego tem dito que quer continuar no euro, mas as negociações dos próximos dias vão ser duras, tendo em conta algumas das reacções conhecidas após a vitória do “não”.

Do motor da Europa veio a posição mais contundente. O ministro alemão da Economia, Sigmar Gabriel, declarou que o Governo grego “derrubou as últimas pontes” para um acordo com a Europa.

O presidente do Eurogrupo também não gostou da vitória do “oxi”. Para Jeroen Dijsselbloem, o resultado é “muito lamentável para o futuro da Grécia”.

Já o presidente do Parlamento Europeu defende que a União Europeia deve discutir urgentemente um programa de ajuda humanitária à Grécia, para evitar que os cidadãos paguem o preço da "situação dramática" a que o Governo levou o país. Martin Schulz espera, agora, propostas credíveis por parte de Atenas.

Ainda antes do desfecho do referendo, o primeiro-ministro português “puxou” este domingo da calculadora. De visita a Cabo Verde, Passos Coelho lembrou que há países europeus que "emprestaram muito dinheiro" à Grécia e que a questão não pode ser esquecida.

Opinião diferente tem o homólogo grego. Alexis Tsipras diz que está na altura de a Grécia renegociar a dívida - que ascende a 177% do PIB - com os credores  internacionais.

Os próximos dias ou semanas vão ditar o futuro da Grécia. Na edição especial deste domingo na Renascença sobre o referendo grego, José Manuel Fernandes, do jornal online “Observador”, afirmou que “o mais provável é a Grécia sair do euro. Era bom para a Grécia e para o euro. Não há possibilidade de a Grécia cumprir as regras do euro”.

Graça Franco, directora de informação da Renascença, alerta para as consequências de deixar Atenas cair. "Nós todos perderemos muitíssimo mais se quisermos dar à Grécia um tratamento exemplar. A Grécia pode tornar-se num Estado falhado dentro da Europa", alertou.