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Grécia

António Vitorino acredita num acordo. Referendo serve para “condicionar termos” do entendimento

05 jul, 2015 • José Pedro Frazão

Santana Lopes e António Vitorino lançam a análise sobre o referendo deste domingo. Os comentadores do programa “Fora da Caixa” levantam dúvidas sobre a credibilidade da consulta popular e ensaiam cenários para segunda-feira.

António Vitorino acredita num acordo. Referendo serve para “condicionar termos” do entendimento
Santana Lopes e António Vitorino lançam a análise sobre o referendo deste domingo. Os comentadores do programa “Fora da Caixa” levantam dúvidas sobre a credibilidade da consulta popular e ensaiam cenários para segunda-feira.

O antigo comissário europeu António Vitorino acredita que é ainda possível um entendimento sobre a Grécia, que evite o precedente da saída de um país da Zona Euro.

"Acusem-me de teimosia [mas] eu acho que ainda vai haver um acordo. Isto é a chamada vigésima quinta [hora] extensa. Isto faz parte da maneira de condicionar os termos desse acordo. Mas verdadeiramente isto agora vai levar tempo.  Já não estamos a falar da extensão do programa anterior. Estamos a falar de um novo programa”, adverte Vitorino no programa “Fora da Caixa” da Renascença.

"Não creio que o Euro esteja em causa com a situação na Grécia”, clarifica o jurista, que considera que os principais impactos do referendo vão ser sentidos na Grécia. “ Isto vai criar ressentimento em relação à União Europeia, qualquer que seja o resultado do referendo. Isto vai ter consequências muito profundas junto do povo grego, que não vão ser fáceis de ultrapassar seja qual for o resultado do referendo.”

“A questão do referendo tem apenas a ver com o dirimir de questões e conflitos internos na Grécia. Não vejo sinceramente, qualquer que seja o resultado, que este reforce particularmente a posição negociadora grega. Agora, há um virar de página com o referendo. O programa que estava em curso acabou. Agora vão partir para uma nova etapa, um novo programa, um terceiro resgate”, sustenta António Vitorino que lembra que já Papandreaou tentou em 2011 uma "espécie de fuga para a frente” com a ideia de um referendo.

Sim ou não a quê?
Pedro Santana Lopes deixa reservas sobre a organização desta consulta popular. “Estou para ver como vai ser o referendo. Se há algo que tem fama de não ser extraordinária é a máquina administrativa grega. Estou para ver como vai funcionar este processo eleitoral, deve ser um dos referendos mais rápidos da história das democracias”, observa o antigo primeiro-ministro no debate de temas europeus com António Vitorino.

" Não sou grande fã de referendos”, ressalva o comentador socialista. "Acho que só os suíços é que costumam responder à pergunta do referendo, porque, como têm muitos referendos, podem dar-se ao luxo de responder à pergunta. De resto, cada grego vai responder a uma pergunta que está na sua imaginação. Uns acham que vão responder a sim ou não no euro. Outros acham que vão responder sim ou não à austeridade. Outros acham que vão responder "sim, mantém-se o governo do Syriza" ou "sai com uma derrota". Isto é típico dos referendos”, defende o antigo ministro da Defesa, para quem uma tentativa de utilizar o referendo como uma arma negocial no quadro europeu abre um precedente perigoso.

“Amanhã [aparece] um qualquer finlandês que, de repente, se lembra de fazer um referendo sobre se devemos continuar a apoiar a Grécia, sim ou não. E depois quero ver o que é que acontece. E se porventura um referendo desse género for convocado na Finlândia e de repente os finlandeses dizem “não, acabou. Esgotou-se-nos a paciência”?, alvitra Vitorino.

O que fazer com o resultado
Santana Lopes observa que o governo grego vai expressando diversos cenários sobre a forma como vai gerir o resultado do referendo deste Domingo." Já ouvi declarações para todos os gostos. Ou seja, as pessoas vão votar tendo algo na sua ideia que pode ser variado. Mas em relação às consequências políticas, há aqui uma ideia de dizer "votem os gregos o que votarem, da parte do governo grego é igual". Enquanto a Europa aí parece-me claramente apostada em que haja um “sim”, analisa o comentador social-democrata.

“ Se ganhar o não, estou convencido que as negociações vão ser muito mais difíceis. Acho que é óbvio. Se ganhar o "sim", não sei se o governo grego, apesar de tudo, se aguenta”, resume Santana Lopes.

Já António Vitorino insiste que o Syriza está a cometer um erro claro. “ É sobretudo o erro político de quem pensa que o referendo, por si próprio, vai ser um instrumento de reforço da sua posição negocial europeia".