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Morais Sarmento. Saída da Grécia "pode pôr em causa a continuação da Europa"

30 jun, 2015 • José Pedro Frazão

Os comentadores do debate político das segundas-feiras da Renascença criticam as vistas curtas das lideranças europeias e temem impactos dramáticos para a Europa, caso a Grécia saia da moeda única.

Morais Sarmento. Saída da Grécia "pode pôr em causa a continuação da Europa"
Os comentadores do debate político das segundas-feiras da Renascença criticam as vistas curtas das lideranças europeias e temem impactos dramáticos para a Europa, caso a Grécia saia da moeda única.
Nuno Morais Sarmento adverte que as folhas de cálculo que têm dominado as conversações sobre a Grécia não incluem estimativas de uma crise sistémica no plano político da Europa.

"Os riscos sistémicos, em termos económicos e orçamentais, isto eles [os responsáveis europeus] conseguem meter no Excel. Agora, se se perguntar como é que eles avaliaram o risco político sistémico, isso não está lá na folha de Excel. Não está o impacto de tudo isto que se vai passar sobre estes alicerces, estes fundamentos", disse o antigo ministro do PSD no Falar Claro desta segunda-feira.

"Tem-se pensado pouco sobre isso, porque os acontecimentos não eram previsíveis, mas eu acho que pode ser suficiente para pôr em causa a continuação da Europa", afirma Sarmento, para quem uma possível saída da Grécia da moeda única não é politicamente aceitável.

"Os gregos podem ter toda a culpa do mundo. Mas não é politicamente aceitável para a Europa o risco político que representa, ainda que tendo toda a razão do mundo", sustenta Morais Sarmento.

Vera Jardim diz que as lideranças da Europa não se empenharam a fundo numa solução global para a Grécia.

"Houve aqui uma falta dos líderes europeus de um plano global para a Grécia. Que não é apenas um plano de ajuda para pagar a dívida, apenas um conjunto de medidas relativamente às pensões, impostos, salários, IVA, etc.. Isso são as tecnicalidades, mas não houve um empenho europeu… Empenho terá havido, mas não tinha atrás de si um plano global para uma modernização da sociedade e do Estado grego. Esse esforço, praticamente, não existiu", denuncia o histórico socialista.

"O povo grego será a vítima desta história"
Morais Sarmento acredita que as lideranças europeias vão ser apontadas a dedo pelo descalabro da situação na Grécia.

"O povo grego será a vítima desta história. E, por muito que a Europa ache que fez ou não fez, toda a responsabilidade deste exercício vai cair, direitinha, em cima dos líderes europeus. É uma questão de semanas. Os gregos estão a sofrer e os líderes europeus são quem tinha obrigação de ter evitado que isto pudesse acontecer. É o que as pessoas vão dizer nesse dia. E esse dia está a semanas de acontecer", avisa o antigo ministro social-democrata.

A capacidade de resistência de Portugal a um possível "choque de realidade" na Grécia é, ainda assim, sublinhada por Sarmento, que testemunha a favor do Governo de Passos Coelho nesse domínio.

Vera Jardim admite que foram dados passos importantes pelo Governo para precaver um cenário complicado na zona euro. "Já dei esse recado de confiança no futuro da vida económica e financeira e da segurança das pessoas. Outra coisa é não lutar até ao fim, como acho que se deve lutar, para manter a Grécia na Zona Euro. E para manter a Grécia dentro do perímetro da União Europeia, porque até aí podemos chegar", acrescenta.

A solução pode passar, diz Morais Sarmento, por uma nova fase dos gregos ainda dentro da moeda única. "Como a Grécia não pode sair do euro amanhã, far-se-á uma espécie de 'ringfencing' à volta da Grécia. A Grécia vai ficar dentro da zona euro, mas dentro de uma espécie de 'congelamento' de situação, até que isto se resolva. É esse facto que nos permite dizer que isto ainda não acabou."