Emissão Renascença | Ouvir Online

O Nobel Paul Krugman não é grego, mas votaria "não". Por duas razões

29 jun, 2015

Paul Krugman faz campanha a favor do "não". As propostas dos credores não trazem nada de bom para a Grécia e uma vitória do "sim" teria como resultado a saída do Syriza do poder, uma derrota para quem acredita nos ideais europeus.

O Nobel Paul Krugman não é grego, mas votaria "não". Por duas razões

O prémio Nobel da Economia Paul Krugman não é grego. Por isso, não votará no referendo às propostas dos credores internacionais do próximo domingo. Mas, se Krugman fosse grego, o sentido de voto já estaria definido: "Não".

"Por duas razões", escreve o norte-americano no blogue que mantém no jornal "New York Times", Paul Krugman faz campanha a favor do "não". E fá-lo assente em dois argumentos-base.

Primeiro, sair do euro é melhor do que continuar com o mesmo programa que os credores impuseram nos últimos cinco anos. "Onde é que está a esperança nesta proposta?", questiona o economista.

E, segundo, votar "sim" na consulta popular , na óptica do vencedor do Nobel da Economia em 2008, teria como resultado a necessidade de substituir o Syriza do poder. "E mesmo para quem não gosta do Syriza, isso seria preocupante para quem acredita nos ideais europeus."

Em sentido contrário a esta tese, o editorial do jornal económico "Financial Times" (FT) de domingo diz que Tsipras não está a ser honesto com o povo grego. O FT argumenta que a questão está colocada como se o que estivesse em causa fossem as medidas de austeridade, quando o que se joga é o futuro da Grécia na zona euro.

Krugman argumenta que os cenários mais catastróficos já estão a acontecer: "OK, isto é real. Os bancos gregos estão fechados, o controlo de capitais foi imposto", escreveu o Nobel.

"'Grexit' [saída da Grécia do euro] não está assim tão longe — a temida corrida aos bancos já está a ocorrer, o que significa que a análise dos custos-benefícios a partir de agora começa a ser mais favorável do que nunca à saída do euro", defende Paul Krugman.

Stiglitz. O projecto da zona euro "nunca foi democrático"
Outro Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, é também muito crítico do rumo europeu.

Num artigo publicado pelo jornal inglês "The Guardian", Stiglitz afirma que finalmente está a cair a máscara aos líderes europeus, que "começam a revelar a verdadeira natureza da actual disputa".  "Isto tem muito mais a ver com o poder e democracia e não com dinheiro e economia", escreve. "O projecto da zona euro nunca foi muito democrático."

Para o Nobel, cinco anos de vigência de programas da troika na Grécia só pioraram a situação do país. Stiglitz diz que muito do dinheiro que chegou à Grécia emprestado pelas instituições internacionais serviu para pagar a credores privados alemães e franceses, não chegando sequer entrar na economia do país.

O economista chama a atenção para o que diz ser programa macroeconómico completamente desajustado. "A Grécia transformou um grande défice primário num 'superavit', o que poucos países conseguiram em cinco anos. Isto, no entanto, teve custos extremamente altos em termos de custos humanos, sendo que as propostas gregas mais recentes foram na direcção do que era exigido pelos credores".

Depois de traçar um cenário negro sobre o que aconteceu na Grécia desde 2010, Stiglitz começa a analisar as consequências de cada um dos resultados do referendo de 5 de Julho.

"Nenhuma das alternativas – aprovação ou rejeição – é fácil e ambas acarretam riscos muito grandes. Um voto no 'sim' significa depressão sem fim. Talvez um país na miséria –  que vendeu todas as suas mais-valias e que fez com que os jovens emigrassem – possa finalmente conseguir uma perdão da dívida e a redução dos rendimentos da classe média possa levar a que finalmente a Grécia possa obter assistência no Banco Mundial."

Por oposição, o economista diz que votar "não" abre pelo menos a possibilidade de a Grécia assumir o seu próprio destino. "Os gregos teriam de novo a possibilidade de definir o futuro, que, apesar de poder não ser tão próspero como o passado, trará mais esperança do que a tortura do presente".

Joseph Stiglitz termina o texto assim: "Eu não tenho dúvidas sobre qual seria a minha opção."