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Português no Nepal: "O chão fugiu-nos de debaixo dos pés e nunca mais acabava"

27 abr, 2015

Português descreve à Renascença um cenário de calamidade nas ruas da capital do Nepal. "Parecia que havia ondas no chão, parecia que estávamos num barco."

Português no Nepal: "O chão fugiu-nos de debaixo dos pés e nunca mais acabava"
Pedro Queirós e Lourenço Santos testemunharam o sismo no Nepal. Estavam lá de férias e registaram em vídeo e fotografia a devastação em Katmandu. Agora estão alojados no Consulado Espanho e, para sair do Nepal, Lourenço e Pedro têm de recuperar os passaportes que entregaram para fazer uma excursão. Na altura do sismo, estavam 14 portugueses no Nepal, mas 7 já saíram do país. Este é o relato em português de um sismo que parecia interminável.

"No primeiro segundo pensei que era um comboio", diz Pedro Queirós. O português, que se encontra no Nepal depois de ter vivido o terramoto que matou perto de quatro mil pessoas, estava prestes a sair do seu hotel quando a terra começou a tremer.

Depois da primeira impressão errada, rapidamente percebeu o que se estava a passar. "Estava tudo a abanar, o prédio a dançar completamente, parecia que havia ondas no chão, parecia que estávamos num barco. Lembro-me de pensar que tinha de acabar, mas nunca mais acabava. Foi interminável", descreve à Renascença.

"Começámos a ouvir coisas a partir-se na rua, pessoas aos gritos. Tivemos discernimento porque fomos para debaixo da ombreira da porta. Foi muito forte, muito intenso. O chão foge-nos de debaixo dos pés, basicamente", recorda.

Pedro Queirós viajou para o Nepal por turismo, com um amigo. Já tinham tudo marcado para fazer uma caminhada até ao campo base do Monte Evereste e, por essa razão, tinham deixado os passaportes numa agência de viagens. Ainda estão à espera de os reclamar.

Agora, os dois portugueses estão em contacto com os cônsules portugueses de Nova Deli e de Jacarta. "Estamos no consulado espanhol e as coisas estão calmas, há mantimentos, água, comida, abrigo para toda a gente, estão cerca de 150 pessoas."

Nas ruas a situação é bem diferente. "Fomos ao centro, vemos uma situação de calamidade ou catástrofe. Há muitas pessoas sem água, muitas sem comida, há filas para estes bens básicos. O exército está na rua e há muito trânsito, muitos destroços. Muitas pessoas estão com medo de voltar às suas casas porque há muitos prédios que correm risco de ruir. Estão muitas pessoas a acampar na rua e debaixo de arcadas."

O plano, neste momento, passa por embarcar os dois portugueses, juntamente com os mais de cem espanhóis com quem se encontram refugiados no consulado. "Pode levar cinco horas, um dia ou dois dias", admite.

Pedro Queirós é um dos portugueses que se encontravam no Nepal aquando do sismo de sábado. Seriam pelo menos 14, disse esta segunda-feira o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário. Inicialmente foi avançado que estariam sete cidadãos portugueses no Nepal.