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Como "presente" para Romero, gangues de El Salvador deixam de matar polícias e pobres

27 abr, 2015 • Filipe d'Avillez

Óscar Romero, que vai ser beatificado, era visto como um defensor dos pobres e oprimidos e foi assassinado enquanto celebrava missa. Num país de seis milhões de pessoas existem cerca de 65 mil membros de gangues.

Como "presente" para Romero, gangues de El Salvador deixam de matar polícias e pobres
Os gangues de El Salvador prometem deixar de matar polícias, militares, políticos, juízes e pobres durante o processo de beatificação do arcebispo Óscar Romero.

Num comunicado conjunto, já confirmado como autêntico por Paolo Lüers, representante do governo na mediação com os grupos criminosos, os vários gangues dizem que este é um "presente" que gostariam de oferecer ao arcebispo.

Óscar Romero era visto como um defensor dos pobres e oprimidos e foi assassinado enquanto celebrava missa, em 1980. O seu processo de beatificação foi aberto há vários anos, mas havia dúvidas sobre se o homicídio tinha tido motivações políticas ou religiosas.

O Papa Francisco terá posto fim a esse debate, decidindo pessoalmente avançar com o processo e beatificar o arcebispo. A beatificação está marcada para 23 de Maio de 2015.

"Este é o presente que queremos oferecer ao arcebispo Romero. O nosso arrependimento e pedido de perdão para a sociedade por todos os danos causados", diz o comunicado dos gangues. 

Segundo Lüers, este gesto traduz-se em medidas concretas, como a renúncia ao "direito à autodefesa" que os gangues reivindicavam e a promessa de não matar polícias, soldados, juízes, políticos e pessoas com rendimentos baixos, "os mais afectados pela violência".

Segundo dados avançados pelo "Crux", site especializado em assuntos religiosos, existem cerca de 65 mil membros de gangues criminosos no El Salvador, cuja população é de apenas seis milhões. A violência levada a cabo por estes grupos conduziu a uma taxa de mortalidade que, em algumas partes do país, excede a de zonas de guerra.

Só no mês de Março, quando chegou ao fim uma trégua entre dois dos maiores gangues, morreram, em média, 16 pessoas por dia.