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O mundo a olhar o mar da morte

20 abr, 2015 • Matilde Torres Pereira

Os episódios trágicos à volta do fluxo de migrantes no Mediterrâneo multiplicam-se. Lampedusa, Líbia, Rhodes, tudo pontos de uma teia que não pára de crescer. Do Papa à União Europeia, as vozes levantam-se a pedir soluções para um fenómeno que já provocou a morte de 40 mil pessoas nos últimos 15 anos.

O mundo a olhar o mar da morte
Uma sucessão de naufrágios nos últimos dias voltaram a pôr os olhos do mundo no mar Mediterrâneo. No domingo, entre 700 a mil migrantes foram dados como desaparecidos ao tentarem chegar às praias de Itália. Horas depois, as notícias de mais dois naufrágios: um ao largo da ilha grega de Rhodes, com dezenas de migrantes, e ainda um mais recente, também no Mediterrâneo, com mais de 300 pessoas a bordo.
Em 2014, registaram-se 3.279 mortes no Mediterrâneo, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Foi o ano mais mortífero desde 2000.
Mas 2015 pode ser ainda pior. A OIM regista já cerca de 1.600 mortes, ressalvando que já dá como mortos 700 migrantes que naufragaram no domingo ao largo da Líbia. Relatos de um sobrevivente deram conta que a embarcação transportaria perto de mil pessoas a bordo.
Outro factor a ter em conta é que a OIM só contempla os dados reportados, ou seja, a contabilidade pode pecar por defeito por não incluir dados de possíveis naufrágios que tenham ocorrido sem serem noticiados ou registados.
Com a chegada da Primavera e do tempo ameno, teme-se que o fluxo migratório proveniente do Norte de África e do Médio Oriente se acentue. Calcula-se que o número de migrantes desembarcados no ano passado em Itália (170 mil) seja ultrapassado em 2015.
Com a conta a ultrapassar as 40 mil vítimas desde 2000, a OIM apela aos governos de todo o mundo para que enfrentem aquilo que descrevem como "uma epidemia de crime e vitimização". "Está na altura de fazer mais do que apenas contar o número de mortes", declarou o director da OIM, William Lacy Swing.
Mais de um ano e meio depois do início da operação "Mare Nostrum", em Outubro de 2013, já foram salvos mais de 100 mil migrantes que naufragaram ao tentar atravessar o Mediterrâneo para a Europa a partir de África à procura de melhores condições de vida.
A operação foi lançada depois da tragédia ao largo da ilha italiana de Lampedusa, que matou 366 migrantes.

Preocupação global
Ao longo das últimas semanas, as vozes que se têm levantado a alertar para este gigante problema têm-se multiplicado. Entre elas, a do Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas, que declara que, sem uma operação de larga escala, "muito mais pessoas" vão morrer no Mediterrâneo.
O Papa Francisco, que tem feito deste tema um ponto forte do seu pontificado, reconheceu o esforço de Itália no acolhimento destes migrantes e lamentou a tragédia de domingo.
O eurodeputado português Paulo Rangel defende a criação de uma guarda fronteiriça para acautelar o fluxo de migrantes. Já o presidente da AMI, Fernando Nobre, alerta que "o que está a acontecer no Mediterrâneo é apenas a ponta de um icebergue".
A alta representante da Política Externa da União Europeia, Federica Mogherini, admite que a União Europeia já está "sem desculpas" e tem "o dever político e moral" de dar resposta à crise no Mediterrâneo. Esta sexta-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE reúnem-se no Luxemburgo para avaliar a situação.
A jornalista da Renascença Catarina Santos tem acompanhado o tema e assina o especial multimédia "A Sul da Sorte". Deu também conta de uma entrevista a dois gémeos sírios que descrevem os horrores da travessia, mesmo quando acaba bem.