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Risco de incumprimento da Grécia "é de mais de 50%"

17 abr, 2015 • Vasco Gandra, em Bruxelas

Eurodeputado da Nova Democracia diz à Renascença que a postura do governo grego dificulta acordo. "Todas as medidas tomadas pelo governo grego estão relacionadas com o aumento dos impostos e não com a redução da despesa".

Risco de incumprimento da Grécia "é de mais de 50%"
A Grécia está numa "situação muito difícil" e os conservadores gregos no Parlamento Europeu estão preocupados com o rumo do governo liderado pelo Syriza e a falta de resultados nas negociações entre Atenas e os parceiros europeus.

Se não houver acordo com os credores, a Grécia pode entrar em incumprimento dos compromissos financeiros ("default") e chegar a uma situação de "bancarrota", diz à Renascença Georgios Kyrtsos, porta-voz para as questões económicas dos eurodeputados da Nova Democracia, o partido que ocupava o poder antes da coligação liderada pelo Syriza.

Até finais de Junho há prazos para cumprir: a Grécia tem de pagar a credores, assegurar as despesas do Estado e obter a última fatia do empréstimo do programa de assistência financeira.

Georgios Kyrtsos admite que o risco de "default" é bem real. "Penso que o risco é de mais de 50%. O novo governo grego e os nossos parceiros europeus e os credores alcançaram um acordo no Eurogrupo de 20 de Fevereiro. E desde então nada aconteceu, não há condições para anunciar nada. Todas as medidas tomadas pelo governo grego estão relacionadas com o aumento dos impostos e não com a redução da despesa. Portanto, não estão em condições de comunicar nada, nem de conseguir um acordo com o Eurogrupo".

Grécia "em apuros"
Se não houver um acordo sobre as reformas que Atenas deve implementar rapidamente para poder receber ajuda financeira que lhe permita também cobrir as necessidades do Estado para 2015 e 2016, a "bancarrota" é inevitável, diz o deputado eleito nas listas do partido Nova Democracia do anterior primeiro-ministro Antonis Samaras.

O deputado defende a necessidade de reduzir a despesa pública e de tornar a economia grega mais competitiva apostando nas exportações.

"A economia não está a funcionar bem neste momento. Não há dinheiro suficiente para cobrir as necessidades do Estado. O Estado absorve todo o dinheiro à sua volta e priva do crédito necessário o sector privado", diz. "Nada funciona correctamente. Estamos em apuros num momento em que a zona euro até está melhorar".

Em relação aos contactos entre os representantes de Atenas e os parceiros europeus, Georgios Kyrtsos considera que os membros do governo grego "não têm vontade ou não são capazes" de negociar.

Os obstáculos
Segundo o eurodeputado, há vários aspectos que condicionam a relação do governo grego com os outros membros da UE.

Por um lado, o primeiro-ministro acredita que "a esquerda radical pode resolver os problemas gregos. E também que o bom exemplo político da Grécia será seguido no sul da Europa, em Espanha e Portugal, e mais tarde na Irlanda". O problema, segundo Kyrtsos, é que Alexis Tsipras cria muitos antagonismos na Europa que depois são difíceis de ultrapassar nas relações com os parceiros.

Por outro lado, Tsipras controla apenas uma parte do Syriza ("40% do comité central e 20% do grupo parlamentar") e se decidir ser mais "realista" e "seguir outras políticas" terá resistências do restante partido.

Finalmente, Kyrtsos diz que o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, "pensa que a Zona Euro vai certamente colapsar". E questiona como se pode ter um ministro das Finanças que está a negociar um acordo com outros ministros do Eurogrupo, mas que tem esta perspectiva.

Para o eurodeputado conservador, agora o cenário ideal seria uma inversão de marcha na política económica do governo apoiada por todos os partidos gregos pró-europeus.