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Paul Bhatti: "Lei da blasfémia é má. E acredito que todo o mal tem um fim"

26 mar, 2015 • Filipe d'Avillez

Activista pelos direitos das minorias no Paquistão diz que a pressão ocidental pode ser prejudicial para acabar com a lei que é frequentemente usada contra cristãos e outras minorias.

Paul Bhatti: "Lei da blasfémia é má. E acredito que todo o mal tem um fim"

"Acredito que todo o mal tem um fim. E esta lei é má". É nestes termos que Paul Bhatti, activista pelos direitos das minorias no Paquistão, descreve a lei antiblasfémia em vigor do país, que penaliza quem critica Maomé ou o Alcorão.

A lei é frequentemente abusada e usada particularmente contra membros de minorias religiosas, incluindo os cristãos. Actualmente há alguns cristãos presos por alegada blasfémia, mas o caso mais conhecido é o da cristã Asia Bibi, que foi falsamente acusada por colegas de trabalho muçulmanas, depois de uma discussão, e está presa há vários anos.

"A lei da blasfémia no Paquistão acarreta a pena de morte. Quem violar esta lei pode ser condenado à morte ou, então, a passar muitos anos na prisão", explica Bhatti, a convite da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, para participar no Meeting Lisboa, que decorre de sexta-feira a domingo

Apesar de nunca ninguém ter sido mesmo executado ao abrigo da lei, a ameaça é real, uma vez que muitos acusados são mortos na prisão ou extrajudicialmente, depois de libertados.

"Infelizmente esta lei é abusada para vingar questões pessoais. Há muitos muçulmanos também que têm sido vítimas destas perseguições e falsas acusações", explica Bhatti.

O activista, e ex-ministro das minorias do governo paquistanês, é irmão de Shahbaz Bhatti, que foi o primeiro-ministro cristão no Paquistão e acabou por ser assassinado em Março de 2011 por fundamentalistas islâmicos precisamente por levantar a voz contra a lei da blasfémia.

É preciso "medidas concretas"
Na apresentação do Meeting Lisboa, Bhatti diz-se confiante que a lei acabará por ser abolida.

"Há falsas acusações e há vítimas inocentes, mas, por outro lado, há razões para ter esperança. Muitos muçulmanos apoiam-nos e querem contribuir para promover a liberdade religiosa e a paz social", afirmou.

A lei tem sido alvo de críticas externas, tanto por parte de governos ocidentais como por parte de organizações não-governamentais. Mas Bhatti teme que a pressão ocidental possa ser contraproducente, levando o Governo a manter a lei para evitar parecer que está a ceder ao estrangeiro.

Mais importante, afirma, é apoiar quem está no terreno. "Levantar a voz pelos que não podem levantar a voz é uma coisa boa. Mas é preciso tomar medidas concretas. Estas medidas passam por apoiar e fortalecer a comunidade local, para poder andar pelo seu próprio pé, para se poder defender e erguer a voz", diz.

"Os principais problemas são a iliteracia, a pobreza e a representação política das minorias religiosas, incluindo os cristãos, nos fóruns mais altos da sociedade", elabora.

Encontro "aberto a toda a gente"
Paul Bhatti é o orador principal do primeiro dia do Meeting de Lisboa, na sexta-feira.

Bernardo Cardoso, o coordenador do encontro, explica que esta é uma iniciativa organizada por universitários ligados ao movimento católico Comunhão e Libertação, mas aberta a todos: "O Meeting é um evento de três dias, na tenda do CCB, guiado pelo tema 'Se a felicidade não existe, então o que é a vida?' e à luz deste tema existem conferências, encontros, concertos e duas exposições".

"O encontro é aberto a toda a gente e que fala de um tema transversal a todos os homens. Não é uma iniciativa mais ou menos católica, é para todos."