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Irão “mudou” e Portugal deve aproveitar a “oportunidade”, diz embaixador português

01 fev, 2015

As negociações do nuclear "têm tido altos e baixos, avanços e recuos", resume Damas Nunes, considerando que agora estão em "banho-maria", sem "grandes avanços na discussão".

Irão “mudou” e Portugal deve aproveitar a “oportunidade”, diz embaixador português
O Irão "mudou" desde que Hassan Rohani foi eleito Presidente e Portugal deve aproveitar a "oportunidade" para se aproximar de um mercado de 80 milhões de pessoas, considera o embaixador português em Teerão.

Em entrevista aos jornalistas portugueses que acompanharam a visita oficial ao Irão de Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros português, Mário Damas Nunes partilhou a sua visão do país onde é o embaixador.

O Irão "mudou, o discurso mudou, a sociedade mudou", descreve. "Há uma alteração com o Presidente Rohani, é uma janela que se abre de possibilidades, de ordem política económica e social", aponta.

Na opinião do diplomata, Portugal deve, por isso, aproximar-se do país com 80 milhões de habitantes. "Um dia o Irão abre e nós somos os últimos da fila, porque os outros já cá estão", avisa.

"Esta é uma oportunidade que não devemos, não podemos perder", defende, sem arriscar um prazo para a eventual abertura iraniana. "Num país com uma história milenar e a capacidade negocial do Irão, nunca saberemos exactamente", admite.

Mas Rohani é "manifestamente um Presidente reformista", analisa, preferindo, porém, "temperar a palavra" e substituí-la por "moderado".

A "mudança no ar" resulta mais de uma postura de "diálogo" e "abertura" do que de "realizações concretas", embora visível "nos costumes", nomeadamente no papel da mulher.

"É muito difícil, num país estruturado como o Irão, acontecerem reformas bruscas ou profundas, leva muito tempo", explica.

Se, durante a anterior presidência de Mahmud Ahmadinejad, o Irão era "um país pária", afastado da comunidade internacional, Hassan Rohani "quis abrir". Porém, num país dirigido por um líder religioso, o ayatollah Ali Khamenei, o Presidente e o seu executivo são "um elo pouco forte para poder impor reformas" e, portanto, "as mudanças serão sempre muito pontuais e muito moderadas", observa o embaixador.

Neste contexto, "é muito importante o que acontecer na negociação da questão nuclear", porque "será a primeira grande realização" de Rohani, que confirmará à comunidade internacional "que há uma alteração" na política iraniana.

As negociações do nuclear "têm tido altos e baixos, avanços e recuos", resume Damas Nunes, considerando que agora estão em "banho-maria", sem "grandes avanços na discussão".

Reconhecendo "a dificuldade de negociação" e as "muitas dúvidas" sobre alguns pontos, o embaixador frisa que um acordo sobre o nuclear "é fundamental". Sem ele, não haverá "evolução nem interna nem externa do Irão".

Nesse acordo, todos têm que sair a ganhar alguma coisa. "É preciso encontrar uma solução política que sirva ambas as partes", frisa Damas Nunes, sublinhando que o Irão não aceitará nada que não passe pelo levantamento das sanções internacionais e o reconhecimento do seu direito a utilizar o nuclear para fins pacíficos.

Apesar da complexidade do processo negocial, chegar a acordo é possível, acredita o embaixador, considerando que o grupo de negociadores internacionais é "unido" e "sólido".

Até porque, apesar das receitas do petróleo e do gás, o Irão vive em "economia de resistência", já que "as sanções limitaram drasticamente a situação económica interna".

O país tem conseguido aguentar-se durante três décadas sob sanções, "mas sabe Deus a que preço", alerta Damas Nunes, reconhecendo que Teerão tem carros topo de gama e prédios em construção "como em poucos países europeus".

A União Europeia deve ser "um parceiro aberto ao diálogo com o Irão", defende o embaixador, remetendo os direitos humanos para a pasta da "política interna" iraniana.

"Seguimos com atenção e preocupação e sempre que podemos passamos a mensagem às autoridades iranianas de que gostaríamos que a evolução ao nível de direitos humanos se aproximasse dos nossos valores", frisa.

"Mas temos que ter muito cuidado quando dizemos isto, porque as sociedades não mudam de um dia para o outro. As sociedades levam anos a mudar. O Irão mudará quando tiver que mudar. Não somos nós que vamos mudar o Irão de fora, o Irão mudará por dentro", diz.