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Destino do piloto jordano causa fortes divisões no seio do Estado Islâmico

31 jan, 2015 • Filipe d’Avillez

O Governo japonês diz que as negociações pela libertação do seu cidadão, bem como do piloto jordano, detidos pelo Estado Islâmico, estão num “impasse”.  

Destino do piloto jordano causa fortes divisões no seio do Estado Islâmico
O piloto da Força Aérea da Jordânia que está nas mãos do autoproclamado Estado Islâmico poderá, paradoxalmente, estar a causar mais danos à organização agora do que quando bombardeava alvos do grupo, integrado na coligação internacional que ataca os fundamentalistas.

Segundo o site “Raqqa is Being Slaughtered Silently” (RBSS), gerido por activistas sírios daquela cidade que serve de capital ao Estado Islâmico, mas que se opõem ao grupo, o destino a dar a Kasasbeh está a causar grandes divisões no seio do grupo terrorista, entre os que pretendem continuar com a Jordânia e os que defendem a execução imediata do piloto.

Ao longo dos últimos dias o piloto jordano tem sido apontado como moeda de troca, juntamente com o jornalista japonês Kenji Goto, pela libertação de uma jihadista iraquiana que está detida na Jordânia e aguarda execução pelo seu papel numa série de atentados em Amã.

A troca esteve alegadamente muito próxima de acontecer durante a passada semana, mas falhou porque o Estado Islâmico não apresentou provas de que Kasasbeh estava vivo, pelo que a Jordânia se recusou a libertar Sajida al-Rishawi.

Segundo o site RBSS, existe forte divisão entre os membros do Estado Islâmico sobre o que fazer com o piloto, havendo vários elementos que consideram que ele não deve ser trocado, uma vez que é um soldado inimigo, enquanto Goto é apenas um jornalista. Esta ala dura não terá gostado do facto de um primeiro refém japonês, Haruna Yukawa, ter sido decapitado quando o Japão se recusou a pagar um resgate de cerca de 200 milhões de dólares, considerando que se alguém merecia morrer de imediato era Kasasbeh.

Após esse primeiro pedido de resgate, e depois de assassinar Yukawa, o Estado Islâmico mudou as suas reivindicações, pedindo a libertação de Al-Rishawi.

As divisões internas poderão ser a razão por detrás de uma série de mensagens aparentemente contraditórias vindas do Estado Islâmico e que fogem à actuação normal do grupo.

Por exemplo, as comunicações oficiais do grupo costumam ter a marca da Al-Furqan, o grupo mediático do Estado Islâmico e são marcadas por uma boa qualidade editorial e cuidado com os detalhes. Mas duas das mensagens divulgadas de Goto não tinham essa marca e pareciam feitas mais à pressa.

O facto de o Estado Islâmico não ter apresentado provas de vida de Kasasbeh, nem confirmação da sua morte poderá ser sinal de divergências internas sobre como actuar.

Entretanto, durante as negociações, surgiram várias mensagens contraditórias de altos quadros do Estado Islâmico com presença nas redes sociais, com um a anunciar que Al-Rishawi já estava “em território do califado” e outro a dizer que Kasasbeh tinha sido decapitado. A primeira revelou-se claramente falsa, uma vez que a iraquiana nunca deixou a Jordânia, e a segunda não foi, pelo menos, confirmada. 

O Estado Islâmico anunciou na sexta-feira que está prestes a ser divulgado um novo vídeo da Al-Furqan, que poderá iluminar mais a questão, enquanto o Governo japonês, que diz estar a fazer tudo para libertar o seu cidadão, diz que as negociações estão num impasse.

A Jordânia, por seu lado, diz que se o seu piloto for executado, enforcará todos os membros do Estado Islâmico que estão detidos no país, de acordo com o jornal britânico “Daily Mail”.