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O maior desafio do mundo para 2015? Combater as desigualdades

31 dez, 2014 • João Carlos Malta

Saiba quais são as escolhas do Fórum Económico Mundial para a lista dos dez maiores desafios que se colocam à Humanidade no próximo ano. O trabalho não se avizinha fácil.

O maior desafio do mundo para 2015? Combater as desigualdades
O Fórum Económico Mundial inscreveu aqueles que serão os principais desafios para 2015. E daí nasceu a lista dos dez maiores desafios que o mundo vai enfrentar no próximo ano e que serão seguidos pelos especialistas deste organismo durante os próximos 18 meses.

O aprofundamento da desigualdade lidera o topo das preocupações do quadro de especialistas do Fórum Económico Mundial.

O aumento do desemprego, a quebra da confiança das populações com as suas lideranças, a falta de liderança política e um aumento das tensões entre as superpotências fecha os cinco principais desafios globais.

1 – O aumento da desigualdade dos rendimentos

Foto: Lusa

Sobe uma posição neste 'ranking' anual do Fórum Económico Mundial. Esta organização descreve esta questão como um dos factores decisivos do tempo que vivemos.

Amina Mohammed, membro das Nações Unidas, defende que a desigualdade de rendimentos é apenas um dos factores de uma teia maior e mais complexa. Começa pelo desequilíbrio nas oportunidades, mas estende-se ao género, etnia, deficiência ou idade, entre muitos outros factores.

É um problema que afecta todos os países. Mesmo nos países desenvolvidos atinge dimensões preocupantes, sendo que a metade mais pobre da população controla menos de 10% da riqueza dos países.

No âmbito destas previsões, o Fórum Económico Mundial entende que há perigos inerentes à possibilidade de o mundo não dar a atenção devida a este problema. Desde logo, porque as pessoas, especialmente os mais jovens, com o crescimento do fenómeno, mais facilmente se sentem desenraizados e mais disponíveis para potenciais conflitos.

As desigualdades contribuem também para a redução da sustentabilidade do crescimento económico e o enfraquecimento da coesão social. Minam as democracias e afectam profundamente as expectativas de viver em sociedades desenvolvidas e pacíficas, aponta a organização.

Amina Mohammed aponta que entre as principais soluções para este flagelo estão a promoção de um acesso igualitário a serviços e bens, assim como a um crescimento mais inclusivo com "empregos decentes e acesso a condições mínimas de vida".

2 – O crescimento consistente do desemprego


Foto: Lusa

Este é um fenómeno que está a crescer em todo o mundo. Principalmente na faixa etária entre os 25 aos 54 anos, que é estruturante na composição da força de trabalho.

Larry Summers, professor de Universidade de Harvard, crê que as transformações e as deslocações associadas ao progresso tecnológico estão a acontecer cada vez mais depressa.

"Mas acredito que isto nos oferece uma grande oportunidade para aproveitarmos os baixos custos e a força de trabalho inutilizado e iniciarmos projectos de grande dimensão para construir ou reparar infra-estruturas essenciais nas economias desenvolvida e emergentes", escreve este professor.

3 – Falta de liderança política

Foto: Lusa

A co-fundadora da organização Global Ambassador, Shiza Shahid, explica este fenómeno com o aumento dos lóbis, a criação de dinastias políticas de poder e a corrupção.

"Quanto mais fundo alguém for em relação aos falhanços endémicos, mais difícil é para esse alguém ser um líder político forte. São normalmente obrigados a jogar um jogo com regras pré-definidas que é inevitavelmente a favor do sistema existente e raramente a favor das pessoas e das populações", diz Shahid.

4 – O aumento da competição entre as grandes potências

Foto: EPA

Depois do fim da Guerra Fria, o mundo entrou numa fase em que a prosperidade económica parecia trazer o propalado "fim da história" e a promessa de um bem-estar permanente. Parecia. Na realidade, os últimos anos serviram para mostrar o contrário.

O ressurgimento das tensões russo-americanas teve na Ucrânia mais um episódio emblemático. Os incidentes em Kiev podem ainda ter comprometido as relações entre os russos e a União Europeia.

Outro factor de incerteza é a China. Os próximos tempos vão aclarar como é que o seu crescimento se reflectirá no papel que irá desempenha no mundo. Muitos analistas acreditam que irá ultrapassar os EUA como maior superpotência.

Nas relações regionais há ainda o fortalecimento das disputas entre Japão e a China com o crescimento dos nacionalismos e das disputas marítimas naquela zona do globo.

Espen Barth Eide, membro da administração do Fórum Económico Mundial, destaca ainda a acção do Estado Islâmico para depois abordar a questão geoestratégica de forma mais abrangente.

"Estamos a enfrentar um aumento do nacionalismo e um profundo descrédito pelo multiculturalismo no processo de globalização, sendo que a maior lição é que não podemos ficar parados", conclui.

5 – O enfraquecimento da democracia representativa


Foto: Lusa

Após o "crash" económico de 2008, temos assistido a uma erosão da confiança nas instituições políticas e nos seus processos. As pessoas confiam mais nas empresas do que nos seus representantes políticos, mesmo que não confiem assim tanto no sector privado.

São mais do que muitos os exemplos de manifestações populares contra as condições de vida. Na Europa do Sul, a crise do euro levou a protestos de grande magnitude, os ucranianos ocuparam a praça central de Kiev e em muitos países do Norte de África ainda há as réplicas dos falhanços das "primaveras árabes".

Na Ásia, assistimos às revoltas em Hong Kong, sendo que o ano que passou não foi também fácil para os brasileiros.
Em resumo, há cada vez uma menor ligação entre quem lidera e as populações. As consequências são ainda imprevisíveis.

Os outros cinco desafios

Na lista dos dez desafios para a humanidade conta-se ainda o aumento da poluição no mundo desenvolvido. A industrialização está a criar níveis insustentáveis de poluição. A solução requer, segundo o Fórum, uma revolução tecnológica e intelectual e um roteiro com soluções diferentes que defenda as matérias-primas e limite as emissões de carbono antes que seja tarde demais.

A organização destaca, em sétimo lugar, a ocorrência de eventos atmosféricos extremos. Estas catástrofes são normalmente consequência das mudanças climatéricas e estão a tornar-se cada vez mais frequentes, fortes e mais erráticas. Além de toda a destruição que dissemina provoca também doenças e consequências gravosas em termos económicos e políticos.

aumento das pulsões nacionalistas também é vista como uma grande preocupação para o próximo ano. O ano que passou reanimou algumas lutas nacionalistas. O referendo na Escócia ou questão da Catalunha foram só alguns dos momentos mais marcantes de uma Europa que, se a nível institucional quer caminhar para um maior federalismo, vê as populações a precipitarem-se para movimentos independentistas. A Europa é, aliás, a região do mundo que os especialistas vêem como mais propícia ao aparecimento de tensões nacionalistas no próximo ano.

aumento dos problemas de acesso à água também merece redobrada atenção, com especial enfoque para países como a Índia, a Indonésia, o Bangladesh e a Nigéria. Para os especialistas não há dúvida que estas restrições terão consequências politicas.

A lista encerra com a cada vez maior importância que a melhoria das condições de saúde das populações tem para que os países possam abraçar um projecto de prosperidade económica.