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Liberdade religiosa no mundo "piorou muito" nos últimos dois anos

04 nov, 2014 • Filipe d’Avillez

Catarina Martins, da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, explica que os piores cenários verificam-se no mundo islâmico e comunista, mas há também problemas nas sociedades ocidentais.  

Liberdade religiosa no mundo "piorou muito" nos últimos dois anos

A situação da liberdade religiosa no mundo piorou nos últimos dois anos, com destaque para o mundo de maioria islâmica e os regimes comunistas, mas na Europa também há preocupações com a liberdade de consciência nas sociedades cada vez mais secularizadas. São dados que constam do relatório da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que é lançado esta terça-feira, na Assembleia da República.

Catarina Martins, directora da AIS em Portugal, responsabiliza a instabilidade causada pela Primavera Árabe para o aumento da perseguição religiosa entre 2012 e 2014, os anos abrangidos pelo relatório.

"É um dado que temos verificado muito nos últimos anos. De ano para ano, a situação está pior. Este ano, mais uma vez, verificamos uma deterioração da liberdade religiosa no mundo. Nestes últimos dois anos, em consequência da Primavera Árabe, todas estas revoluções que aconteceram no Norte de África, estão a ter um impacto muito grande. Conhecemos o exemplo da Síria, temos o Egipto, a Tunísia, a Líbia, são situações que se têm agravado ao longo dos últimos dois anos", diz Catarina Martins à Renascença.

O relatório elabora uma lista dos piores 20 países em matéria de liberdade religiosa. "Há uma perseguição muito violenta relacionada com o extremismo islâmico: Afeganistão, República Centro-Africana, Egipto, Irão, Iraque, Líbia, Maldivas, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Síria e Iémen. E ainda seis países onde esta perseguição muito violenta está ligada aos regimes autoritários. Estes são Myanmar [antiga Birmânia], China, Eritreia, Coreia do Norte, Azerbaijão e Uzbequistão".

A lista, em si, não tem grandes novidades, uma vez que a maioria destes países é repetente, mas registou-se um aumento da escala da violência, como, por exemplo, no Iraque e na Síria, onde o avanço do Estado Islâmico levou a massacres em larga escala e à fuga de centenas de milhares de cristãos e membros de outras minorias religiosas.

"São os suspeitos do costume, os países do costume, mas houve um aumento dos fundamentalismos, que fez com que a liberdade religiosa nestes países diminuísse muito", resume Catarina Martins.

Perseguição na "velha Europa cristã"
Mas nem toda a perseguição aos cristãos ou outras religiões, uma vez que o relatório não se confina aos casos relativos ao cristianismo, vem em tons de radicalismo islâmico ou intolerância política. Na Europa há também situações preocupantes.

"O que verificámos é que, na Europa, há um declínio da liberdade religiosa, porque os nossos políticos estão a tentar secularizar a Europa, apagando as raízes cristãs. Cada vez mais na Europa há este sentido de que a religião é uma coisa privada e que, por isso, não podemos vir para a rua exprimir a nossa fé. E isso são sinais preocupantes, de facto, porque nos levam a pensar o que poderá acontecer nos próximos anos, na nossa velha Europa cristã, com as suas raízes que estão a desaparecer", denuncia Catarina Martins.

A Ajuda à Igreja que Sofre é uma organização oficial da Igreja, que está presente no terreno para ajudar as comunidades cristãs que sofrem perseguições.

O relatório de 2014 é lançado às 17h00 desta terça-feira no auditório da Assembleia da República, numa cerimónia aberta ao público e que conta com a presença de um arcebispo libanês, que falará da situação da liberdade religiosa no seu país.