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Barroso diz que Cameron pode estar a cometer "erro histórico"

20 out, 2014 • Eunice Lourenço

Países da Europa Central e de Leste serão os mais afectados com as restrições à entrada de trabalhadores não qualificados que o Governo inglês está a estudar. Presidente da Comissão Europeia pede aos políticos britânicos um discurso positivo sobre a UE.

O Governo britânico pode estar a cometer um “erro histórico” na abordagem que está a fazer à União Europeia. O aviso foi feito por Durão Barroso, esta segunda-feira, em Londres.

O aviso vai directo para o primeiro-ministro inglês, David Cameron, que Barroso acusa de estar a ter uma atitude defensiva e a "alienar" o apoio dos países da Europa Central e de Leste, que serão os mais afectados com as restrições à entrada de trabalhadores não qualificados que o Executivo inglês está a estudar.

“Será um erro histórico se a Grã-Bretanha continuar a alienar os seus aliados naturais na Europa Central e de Leste, quando foi um dos maiores defensores da sua adesão” à União Europeia, disse Barroso, num discurso na Chatham House, o prestigiado Instituto Real de Assuntos Internacionais, onde o ainda presidente da Comissão Europeia fez um balanço dos seus dez anos à frente do colégio de comissários.

Barroso fez o seu balanço, recordando as crises que a Europa superou neste tempo, mas quis sobretudo deixar um aviso pouco habitual e muito claro aos dirigentes britânicos a quem acusou de terem uma atitude de permanente criticismo face às instituições europeias.

“Tenho dificuldade em aceitar este pressuposto de que há uma tensão permanente entre os interesses do Reino Unido e o interesse europeu. A minha experiência mostra o contrário”, disse Durão, acrescentando que, quando o Reino Unido se empenha, os argumentos e o pragmatismo britânicos convencem os seus aliados. E deu vários exemplos, como as políticas para as alterações climáticas, as medidas contra os combatentes radicais e as sanções contra a Rússia na crise com a Ucrânia.

O problema é, então, segundo Barroso, a falta de empenho dos políticos britânicos que não têm um discurso positivo sobre a União Europeia para consumo interno. Algo que se torna mais preocupante face à possibilidade de um referendo sobre a continuidade do Reino Unido na União Europeia.

“Nunca se ganha um debate na defensiva. Vimos na Escócia que é preciso dar e fazer um discurso positivo. Da mesma forma, se continuam a apoiar a pertença à União Europeia, têm de dizer o que a Europa defende e por que é que é do interesse britânico continuar a fazer parte da União”, avisou Durão Barroso, apelando assim aos três partidos que conseguiram dar a volta ao referendo na Escócia, que façam o mesmo em relação à União Europeia: que se unam e tenham um discurso positivo.