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Unicef

Órfãos de vítimas do ébola enfrentam estigma e abandono

30 set, 2014

"Em algumas comunidades, o medo à volta do ébola está a tornar-se mais forte do que os laços familiares", diz a Unicef, que calcula que 3.700 crianças tenham perdido os pais devido ao vírus.

Órfãos de vítimas do ébola enfrentam estigma e abandono
O ébola levou-lhes os pais e entregou-lhes uma sobrevivência solitária, assombrada por um estigma contagioso. A Unicef calcula que cerca de 3.700 crianças tenham ficado órfãs devido ao vírus hemorrágico e que agora estão a ser rejeitadas pelas suas comunidades com medo de contágio.

John, de quatro meses, ficou ao cuidado da segurança social dois dias depois de a sua mãe ter morrido em Monróvia, a capital da Libéria.

Pouco depois John ficou a cargo de um sobrevivente do vírus. Contudo, a notícia não foi bem recebida pelos seus novos vizinhos, que impediram a criança de ficar naquela aldeia.

John é um caso entre muitos na África Ocidental. Segundo a Unicef, estas crianças enfrentam abandono e estigma. A agência das Nações Unidas teme que o número de órfãos possa duplicar até meados de Outubro.

"Em algumas comunidades, o medo à volta do ébola está a tornar-se mais forte do que os laços familiares", disse à Reuters Manuel Fontaine, director regional da Unicef para África Ocidental e Central.

Os trabalhadores de ajuda humanitária avisam que é necessário uma atitude diferente aos órfãos em relação à que existiu em conflitos antigos ou outras catástrofes.

"Não podemos simplesmente montar um centro e pôr 400 crianças lá dentro como costumávamos fazer. É muito mais complicado do que isso", disse Andrew Brooksm da Unicef, que já trabalha em zonas de guerra há vários anos.

A organização espera conseguir formar, nos próximos seis meses, sobreviventes do ébola para cuidar das crianças órfãs na Serra Leoa.

Outra consequência do medo de infecção é o fecho das escolas. Na Guiné, Libéria e Serra Leoa as crianças não estão a ter acesso à educação já que os governos adiaram o início das aulas. O governo da Serra Leoa, por exemplo, planeia transmitir aulas pela rádio.

As Nações Unidas continuam atentas e activas em relação à ameaça do vírus hemorrágico. A missão da ONU para o ébola quer alcançar progressos significativos nos próximos 60 dias, assegurando tratamento a 70% dos casos.