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Referendo na Escócia

Em Londres, as bandeiras azuis e brancas são do "Não"

18 set, 2014 • Letícia Amorim, em Londres

A maioria dos ingleses quer que o Reino Unido permaneça como está. Mas os ingleses não vão ser ouvidos.

Em Londres, as bandeiras azuis e brancas são do "Não"
As bandeiras azul claro com a cruz branca de Santo André, padroeiro escocês, estão visíveis em Downing Street e em vários edifícios públicos. Londres vestiu as cores da Escócia por estes dias num apelo unionista voltado para o norte do Reino Unido. É lá que que cinco milhões de britânicos vão decidir o futuro de uma união fundada há mais de 300 anos e nunca antes tão ameaçada.

O referendo à independência da Escócia tem levado os londrinos para a rua, como aconteceu de novo esta quarta-feira, em Trafalgar Square, onde centenas de pessoas se juntaram para pedir “votos não” à pergunta “A Escócia deve ser um país independente?”.

No início da semana, personalidades britânicas discursaram a favor da causa da campanha “Let’s Stay Together” (Vamos Continuar Juntos). Foi o caso de Bob Geldof, que discursou para dizer aos escoceses a partir da capital da união: “Nós também estamos fartos de Westminster”, mas o Reino Unido “foi a melhor ideia alguma vez inventada” e precisa de ser salva, disse o cantor.

As sondagens indicam que a maioria dos ingleses e galeses defende que o Reino Unido deve permanecer como está. Um estudo de opinião publicado há dias indicava que 59% das pessoas que vivem abaixo da linha fronteira da Escócia defendem que o país não deve tornar-se independente, com 19% a favorecerem a separação. Muitos defendem que deveriam ser ouvidos nesta consulta.

Podem votar os maiores de 16 anos e residentes na Escócia. Isto significa que os cidadãos ingleses ou galeses que residem na Escócia podem participar. Mas os escoceses que vivem em Londres, por exemplo, não poderão dar o seu voto. O mesmo é dizer que os habitantes da Inglaterra, do País de Gales e da Irlanda do Norte não vão poder pronunciar-se num momento decisivo para o Reino Unido.

Governo e oposição, uma só luta
O referendo conseguiu unir o governo e oposição sediados em Londres na defesa do Reino Unido com a composição que conhecemos.

A coligação liderada pelo primeiro-ministro David Cameron fala na “união com mais sucesso a nível social e a nível político”.

Do lado da oposição, os trabalhistas temem perder votos nas próximas eleições, uma vez que uma parte significativa dos deputados trabalhistas no Parlamento foram eleitos pelos escoceses. A campanha trabalhista colocou nos últimos dias todos os trunfos à disposição, convocando mesmo o antigo primeiro-ministro Gordon Brown, que não aparecia em público desde que foi derrotado nas eleições de há quatro anos, e tem vindo a marcar o rumo da campanha do seu partido.

No maior teste à união do Reino Unido, há, por exemplo, líderes de grandes cadeias comerciais, como a Marks & Spencers, a colocarem-se publicamente ao lado do “Não” com o aviso aos consumidores de que os preços vão subir numa Escócia independente. É também o caso de figuras públicas como David Beckham – que se colocou esta semana ao lado da campanha do “Não”, apelando à ligação histórica do Reino Unido.

Do lado oposto, a estilista inglesa Vivienne Westwood veio esta semana declarar o apoio ao “Sim” num desfile da London Fashion Week, dizendo: “Nós, ingleses, temos que lutar contra o nosso governo. Vocês, na Escócia, podem ter o governo que querem.”

Uma curiosidade entre as múltiplas estatísticas que têm analisado quase de tudo nos últimos dias: é que a independência da Escócia faria aumentar a média de horas de sol do Reino Unido em de dois dias por ano.