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Medo e esperança. Independência da Escócia divide Peter e Muammad

16 set, 2014 • Anabela Góis, enviada especial à Escócia

Escócia está dividida na contagem decrescente para o referendo. "Seremos um pequeno país à mercê dos grandes", argumenta Peter. "Podemos até ganhar pontos em relação à Inglaterra", contrapõe Muammad.

Medo e esperança. Independência da Escócia divide Peter e Muammad

Peter vive há 15 anos na Escócia. É polaco e nunca votou, nem mesmo na sua terra natal. “Tento manter-me o mais afastado possível da política, porque nunca conhecemos verdadeiramente as pessoas em quem votamos e, por isso, é difícil dar um voto de confiança a um estranho”, explica à Renascença.

Mas desta vez é diferente. O futuro da Escócia está em jogo e Peter quer tomar parte da decisão que pode mudar para sempre o país que o adoptou e onde escolheu formar família.
“Vou votar não” à independência, revela.

E o que é que o levou a mudar e a estrear-se numa ida às urnas? Peter explica que, “por incrível que pareça, foi a atitude conquistadora da Rússia em relação à Ucrânia”. “Agora foi a Ucrânia. No futuro, o que será?”, pergunta.

“A ânsia dominadora de Vladimir Putin não conhece fronteiras. E se um dia avança para a Escócia? Quem nos ajuda se formos independentes? Não estaremos na União Europeia nem na NATO. Seremos um pequeno país à mercê dos grandes”, argumenta.

Muammad, um paquistanês que vive em Edimburgo há 10 anos - tempo suficiente para adquirir o sotaque típico - nem hesita: vota sim e explica porquê. "Londres diz que fazemos parte de uma nação, mas, só para dar um exemplo, aqui se quisermos andar na universidade temos de pagar”, refere Muammad.

Depois acrescenta acalorado: “é mentira que a Escócia perca com a independência. Não interessa se mudamos de moeda, se quisermos podemos continuar a fazer parte da União Europeia e até ganhar pontos em relação à Inglaterra”.

Conversas que duram uma viagem de táxi, mas que se replicam por toda a Escócia. Peter e Muammad são dois exemplos de como o país está dividido em relação à questão da independência.

As mais recentes sondagens mostram que a aproximação do referendo de quinta-feira, dia 18, partiu a Escócia praticamente ao meio. As opiniões estão de tal forma divididas que o papel decisivo vai caber aos indecisos que andarão, nesta altura, por volta dos 10%, ou seja, cerca de 400 mil dos eleitores inscritos.