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Sim ou não? Perguntas e respostas sobre a independência escocesa

16 set, 2014 • Inês Alberti

Na quinta-feira, os escoceses escolhem o que querem: continuar no Reino Unido ou assumir a independência. Saiba tudo sobre o referendo que emocionou David Cameron.

Sim ou não? Perguntas e respostas sobre a independência escocesa
Por que é que vai haver um referendo à independência?
Há vários anos que o movimento separatista, alimentado por ideias mais liberais, tem avançado na política e na sociedade escocesas.

Em 2011, os eleitores escoceses deixaram de fora do Parlamento a grande maioria dos democratas liberais, já que estes formaram uma coligação com os conservadores londrinos. Os lugares vazios foram preenchidos pelo Partido Nacionalista Escocês que começou prontamente a organizar um referendo.

A 15 de Outubro de 2012, foi assinado o acordo de Edimburgo entre os primeiros-ministros britânico e escocês, David Cameron e Alex Salmond (também líder do Partido Nacionalista). O documento autoriza o referendo que irá perguntar aos escoceses “Should Scotland be an independent country?” (A Escócia deve ser um país independente?).

A consulta popular foi marcada para 18 de Setembro de 2014, o ano em que se celebram os 700 anos da Batalha de Bannockburn, que devolveu independência à Escócia depois de a Inglaterra ter começado o seu domínio sobre o país em 1296. A Escócia só voltaria a juntar-se ao Reino Unido em 1707.

Quem defende a independência na Escócia?
O Partido Nacional Escocês, o Partido Verde Escocês e o Partido Socialista Escocês apoiam o “sim”.

Enquanto a Escócia é tradicionalmente mais liberal, o resto do Reino Unido tem práticas mais conservadoras. Foi esta diferença que levou os líderes escoceses, nomeadamente o primeiro-ministro Alex Salmond a avançar com o referendo.

Se os escoceses não aprovarem a independência, não haverá outro referendo, assegurou Salmond.

E o “não”?
A campanha “Better Together” é composta pelo Partido Trabalhista, o Partido Conservador e os Democratas Liberais da Escócia. O primeiro-ministro inglês, David Cameron, também apelou a que a Escócia se mantenha no Reino Unido – um discurso marcado pela emoção.

Quais são os argumentos do “não”?
O movimento “Better Together” baseia grande parte dos seus argumentos pró-união nas benesses a que a Escócia tem direito por fazer parte do Reino Unido. Diz, por exemplo, que a Escócia usa o dinheiro dos impostos, o fundo de pensão, o Serviço Nacional de Saúde e a defesa militar do Reino Unido.

Outro argumento contra são os postos de trabalho: um em cada cinco postos de trabalho escoceses estão em empresas com base nos outros países. Em causa estão 600 mil empregos, lê-se no “site” do movimento.

E depois há a exploração petrolífera no Mar do Norte. O “Better Together” explica que os escoceses não se podem fiar nas receitas do petróleo, que “não dura para sempre.”

Os defensores do “não” acenam ainda com os perigos de deixar a libra e a União Europeia.

E o que argumenta o “sim”?
Já a campanha “Yes Scotland”, liderada pelo primeiro-ministro Alex Salmond, está confiante de que a independência será o melhor para a Escócia.

Em primeiro lugar, com a transição de todos os poderes para o seu Governo conseguem ter mão sobre todos os assuntos. A liberdade política permitirá à Escócia melhorar o sistema de saúde, as pensões e os cuidados infantis.

O “Yes” vê a questão dos postos de trabalho de maneira diferente: defende que a Escócia tem muitos recursos naturais e pode tornar-se um dos maiores exportadores de energia e electricidade para a Europa.

Acabar com a exploração de energia nuclear e beneficiar em pleno da exploração petrolífera no Mar do Norte são outros dois argumentos para a independência.

Qual será o destino da moeda?
Para o movimento nacionalista mantinha-se a libra (e a partilha do Banco de Inglaterra). Para os três principais partidos políticos britânicos (Liberais, Conservadores e Trabalhistas) isso não é opção. George Osbourne, ministro das Finanças do Reino Unido, já declarou que a Escócia não vai poder partilhar a libra.

Um dos grandes golpes contra os movimentos independentistas é a falta de um “plano B”, caso a Escócia não possa, de facto, continuar a usar a libra numa união monetária com o Reino Unido.

As outras opções são o uso da libra independentemente do Reino Unido (o que levaria à falta da segurança fornecida por um banco central), a adesão ao euro ou a criação de uma nova moeda.

Mas se a Escócia independente não fica com a libra, também não fica com a dívida pública correspondente, avisou o primeiro-ministro Alex Salmond. Se o Reino Unido tiver que ficar responsável pela dívida escocesa, isso pode atrasar a recuperação da notação de crédito AAA, o máximo atribuído pelas agências de “rating”.

A Escócia vai continuar a fazer parte da União Europeia?
Salmond acredita que a bandeira azul tem lugar para mais uma estrela dourada. Os pró-independência defendem que nada impede que a Escócia permaneça na União Europeia depois do referendo, tendo em conta que já faz parte integral da união e que cumpre as suas regras e práticas há 40 anos.

A entrada nos 28 não seria, no entanto, um processo fácil ou rápido. A questão da moeda pode atrasar ou mesmo impedir a entrada: se a Escócia continuar com a libra, isso pode demonstrar que o país não tem capacidade para gerir a sua economia suficientemente bem.

Outro obstáculo à entrada é o voto dos 28 Estados-membros. Nomeadamente da Espanha, a quem não convém estar de acordo com uma separação de um país em dois territórios, já que há vários anos tenta evitar precisamente que isso aconteça na Catalunha. 

O que vai acontecer à Rainha? Dois países, um trono?
Para continuar a ter a Rainha Isabel como o seu líder máximo, a Escócia teria que redigir uma nova constituição.

No seu mais recente comentário sobre o referendo de dia 18, a Rainha Isabel II pediu à Escócia “que pense cuidadosamente sobre o futuro”.

Os nacionalistas escoceses mostraram vontade de continuar sob o domínio da família real inglesa. As duas monarquias estão unidas há mais de 400 anos, quando o Rei escocês Jaime VI subiu ao trono inglês.

Qual é o problema da energia nuclear?
Uma das posições mais marcadas da campanha para o “sim” é o fim da exploração de energia nuclear na Escócia. Isso passa por remover quatro submarinos “Trident” equipados com mísseis nucleares da base naval de Faslane, perto de Glasgow. O Governo do Reino Unido avisa que mover os submarinos pode ser muito dispendioso e complexo. Este pode ser um dos maiores entraves nas negociações entre os dois países.

O que indicam as sondagens?
Segundo o "site" de sondagens YouGov, “a menos que algo dramático aconteça nos próximos três dias, a vitória do ‘não’ é o resultado mais provável”.

Nas primeiras sondagens em Agosto a diferença entre as duas posições eram claras: apenas 39% dos escoceses queriam a independência. A tendência nos seguintes dias começou a inverter-se até que no dia 6 de Setembro, já eram mais os cidadãos que admitiam votar “sim”, apesar da margem ser mínima (apenas 2%). Nas últimas estatísticas a intenção de voto fixou-se nos 52% para o “não” e 48% nos “sim”.